A Câmara dos Deputados realizou nesta quarta-feira (2) sessão solene para recordar os 77 anos da Nakba. A reunião foi convocada e mediada pelo deputado federal Padre João (PT-MG), com objetivo de provocar a reflexão da comunidade internacional sobre o direito do povo palestino.
Celebrado oficialmente em 15 de maio pelos palestinos, a Nakba é a palavra árabe que significa “catástrofe” ou “desastre” e se refere ao êxodo palestino de 1948, após a criação do Estado de Israel. Durante o período, cerca de 15 mil palestinos foram mortos e 450 mil foram expulsos de suas terras. Atualmente, estima-se que há quase 6 milhões de palestinos refugiados no mundo desde a Nakba. A maioria vive em países vizinhos e no exterior.
No evento, estiveram presentes parlamentares e representantes da comunidade palestina no Brasil. Entre eles, Ualid Hussein, Presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal) e o presidente do Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal) Ahmed Shehada.
A discussão reforçou os principais desafios enfrentados pelo povo palestino ao longo dos últimos anos, incluindo segregação, dificuldades econômicas, constante presença militar israelense nos territórios ocupados que resultou na morte de milhares cidadãos palestinos.
Genocídio secular
Segundo o Ministério da Saúde de Gaza, desde de outubro de 2023, mais de 53 mil palestinos foram assassinados e mais de 120 mil ficaram feridos com os conflitos na região. Em março deste ano, quando Israel rompeu unilateralmente um cessar-fogo, mais de 3,6 mil palestinos foram mortos.
Líder religioso e autor do pedido da sessão solene, o deputado Padre João defendeu que a soma na luta contra o genocídio do povo palestino é urgente. “Diante desse cenário, agora mais do que nunca, devemos ter a consciência de que urge fortalecer nossa luta em favor da Palestina. Os eventos posteriores a outubro de 2023 trouxeram escalar sem precedentes de violência. A resposta desproporcional e indiscriminada resultou em números que chocam a consciência humana.”
“Hoje, mais de 77 anos depois, vivemos e testemunhamos que Israel busca eliminar por completo a presença palestina, tanto na Síria com anexações e expansão de assentamentos ilegais, quanto na faixa de Gaza com uma guerra marcada por massacres, sem precedentes na história estrangeira. É uma tentativa sistemática de eliminar o povo palestino fisicamente e identitariamente, diante de um silêncio internacional vergonhoso e cumplicidade clara das potências dominantes”, apontou Ahmed Shehada, presidente do Ibraspal.

Para a deputada federal Érika Kokay (PT-DF), a sessão foi um lembrete de que a Nakba ainda não acabou. “Esta é uma sessão absolutamente fundamental para que nós possamos mostrar para o Brasil inteiro que nós temos que nos posicionar”, argumentou.
“Estamos diante de um processo sistemático de apagar a existência do povo palestino, seja por assassinato deliberado, por fome forçada, por sede imposta ou pela expulsão forçada também. É um projeto de erradicação que se sustenta no silêncio oficial internacional, de cumplicidade de potências pró-sionistas que ignoram o clamor de centenas de milhões de palestinos ao redor do mundo”, pontuou o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben.
O rabino Yisroel Dovid Weiss, que também esteve presente na sessão, explicou que a ocupação sionista da Palestina é a causa principal do genocídio secular na região. “Recordamos com gratidão a convivência pacífica entre muçulmanos e judeus, que existiu durante muitos séculos em todos os países árabes e muçulmanos, inclusive na Palestina. A diferença de religião nunca foi causa de conflito. A ocupação sionista da Palestina é a causa principal do derramamento de sangue trágico e contínuo que ocorre há mais de 100 anos, tanto de árabes quanto de judeus.”, destacou.

“Ser contra o Estado sionista de Israel não é ser contra os judeus, nem ser antissemita. Na verdade o estado de Israel é a personificação e a definição mais clara do antissemitismo.”, ressaltou o rabino.
Relação Brasil-Israel
A relação entre Brasil e Israel foi criticada pelos representantes da comunidade palestina e parlamentares durante a sessão. Recentemente, o Senado Federal aprovou o projeto de lei que estabelece o dia 12 de abril como o Dia da Amizade Brasil-Israel.
“O governo brasileiro tem que romper essas relações e nós temos que nos solidarizar e somar as nossas vozes, as nossas lutas, as nossas ações, a resistência do povo palestino. Não é mais permitido que tenhamos o genocídio explícito que cola na nossa alma, cola na nossa pele e exige de nós uma ação contundente”, defende Kokay.
Logo após a aprovação do texto, o Ibraspal emitiu uma nota de repúdio. De acordo com a entidade, a relação entre os países se solidificou em um momento em que Israel intensificou os ataques contra o povo palestino na Faixa de Gaza.“Não existe amizade possível entre o Brasil e uma entidade construída sobre a base da expulsão forçada de um povo inteiro, que há quase um século sofre com ocupação, massacres, colonização e apartheid. A aprovação desse projeto de lei ignora completamente a luta legítima do povo palestino por libertação e direito ao retorno às suas terras, além de contrariar o sentimento solidário da maioria do povo brasileiro”, diz parte da nota.
Na avaliação do socioambientalista Thiago Ávila, é necessário que o Brasil acabe com a relação comercial com Israel. “O Brasil precisa romper relações com a entidade sionista genocida de Israel. O Brasil não pode ser o quarto maior exportador de petróleo para essa máquina genocida. O Brasil não pode comprar drones como tem feito, não pode fazer manutenções, comprar fuzis, software de espionagem que são usados contra o nosso próprio povo. O Brasil não pode manter um acordo de livre comércio do Mercosul com Israel. Nós simplesmente não podemos compactuar com o genocídio”, argumentou.

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