Ameaça de Trump sobre tarifas reforça papel do Brics como alternativa ao neoliberalismo: ‘Sintoma de desespero do império’

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçou, no domingo (6), impor uma tarifa adicional de 10% a “qualquer país que se alinhar às políticas antiamericanas do Brics”. A declaração foi feita por meio da rede social Truth Social, sem detalhar quais países serão afetados nem especificar o que entende por “políticas antiamericanas”.

Apesar da retórica agressiva, analistas apontam que a nova ofensiva pode acabar fortalecendo o papel do bloco como alternativa ao modelo neoliberal liderado por Washington.

Para Marta Fernández, pesquisadora do Brics Policy Center, a ameaça de Trump pode ter efeito contrário ao pretendido. “Ironicamente, reforça o papel do Brics como ator relevante do sistema internacional. Agora ele não mira um país específico, mas um bloco inteiro”, analisa.

Segundo ela, a estratégia do republicano é “dividir para dominar”, ao tentar gerar medo entre os países que negociam acordos bilaterais com os Estados Unidos. A Índia, por exemplo, ainda tenta evitar as tarifas unilaterais anunciadas em abril, que podem chegar a 50% em alguns setores.

Marco Fernandes, membro do Conselho Popular do Brics, considera que a declaração de Trump deve ser vista com cautela, mas não ignorada. “O método Trump é errático. Ele ameaça, volta atrás… A gente não sabe se leva a sério ou não. Mas o simples fato de ameaçar já é um sintoma do desespero do império.”

Para ele, a ameaça representa também um reconhecimento indireto do potencial que o Brics carrega como alternativa ao sistema liderado pelos Estados Unidos. “Ainda faz pouco, mas o potencial está lá. É por isso que está sendo atacado.”

Declaração do Brics evita confronto direto, mas críticas aos EUA são evidentes

As declarações de Trump foram feitas poucas horas depois da divulgação da “Declaração do Rio de Janeiro”, documento aprovado no primeiro dia da Cúpula do Brics, que ocorre até esta segunda-feira (7), no Rio de Janeiro. O texto evita nomear os Estados Unidos diretamente, mas traz críticas explícitas ao protecionismo, às tarifas unilaterais e à paralisia da Organização Mundial do Comércio (OMC).

“É como se os EUA estivessem presentes na declaração, mesmo sem serem nomeados”, explica Fernández. “Os temas centrais dialogam diretamente com a política de Trump: sanções unilaterais, protecionismo, tarifas comerciais, o bloqueio do órgão de apelação da OMC.”

A declaração também defende o fortalecimento do multilateralismo, a reforma das instituições globais e medidas que visam um distanciamento do dólar. Entre as propostas estão um sistema alternativo de pagamentos e o uso crescente de moedas locais.

“O Brics tem buscado alternativas à infraestrutura financeira dominada pelos EUA, como o SWIFT”, completa Fernández. “Mesmo que com cautela diplomática, a agenda do bloco representa um movimento em direção a uma ordem internacional menos centrada nos interesses norte-americanos.”

Fernandes também aponta que, embora os líderes do bloco insistam que o Brics “não é anti-Ocidente, apenas não ocidental”, o movimento contrário parte do Norte Global. “O Ocidente é cada vez mais contra o Brics”, afirma.

Segundo ele, ao menos três países do bloco sofrem ataques diretos: Rússia e Irã, alvos da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e de Israel, respectivamente, e China, alvo de sanções e campanhas de desinformação. “Até o Brasil foi ameaçado, como no caso de Alexandre de Moraes, e a África do Sul foi alvo de fake news sobre suposta perseguição a brancos.”

Reações às ameaças

Em resposta às declarações de Trump, o Ministério das Relações Exteriores da China declarou que “o uso de tarifas não serve a ninguém”. A Rússia afirmou que a cooperação dentro do Brics “nunca foi e nunca será dirigida contra terceiros”. A África do Sul classificou o grupo como um “movimento em prol de um multilateralismo reformado”.

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