De acordo com a pesquisa “Percepções sobre o Racismo no Brasil“, realizada pelo Instituto Peregum e o Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista (Seta) em 2023, 81% dos brasileiros afirmam que o Brasil é um país racista, mas 67% consideram que as leis que o criminalizam são insuficientes para evitar práticas de discriminação racial. Diante desse cenário, construir caminhos para ampliar o debate sobre o tema e como indivíduos podem assumir uma postura antirracista é chave central para incidir nessa realidade. É o que propõe o curso “Letramento Racial: Desconstruindo Silêncios”, uma iniciativa virtual que busca formar pessoas para reconhecer o racismo, entender como ele opera e agir de forma consciente na luta por justiça racial. As aulas, que têm início nesta terça-feira (8), são gratuitas e as inscrições podem ser feitas através do formulário.
Organizada pela Yalodês – Rede de Advogadas Negras, organização antirracista idealizada por juristas negras baianas, a formação é dividida em três módulos que abordarão desde o mito da democracia racial e o panorama histórico do racismo no Brasil até práticas cotidianas de enfrentamento e a identificação do racismo em diferentes esferas da sociedade. Para a presidente da rede, Caliane Nunes, a iniciativa busca ser um catalisador de transformações sociais.
“Precisamos desconstruir silêncios e capacitar pessoas para que se tornem agentes de mudança, promovendo o diálogo e a ação contra todas as formas de discriminação. É urgente que cada um assuma sua responsabilidade neste processo”, destaca.

Realizado em pleno Julho das Pretas, mês marcado pelo protagonismo da luta das mulheres negras latino-americanas e caribenhas, Nunes destaca que a iniciativa ganha um significado ainda mais profundo e urgente.
“Este é um mês de memória, luta e afirmação das mulheres negras, e quando somos nós que promovemos espaços de debate sobre justiça e antirracismo, reafirmamos que nossas vozes não apenas resistem, elas constroem. Nossa luta não é apenas por ocupar espaços, mas por transformar estruturas e garantir pertencimento. E ao trazer esse debate para toda a sociedade, mostramos que o combate ao racismo não é responsabilidade exclusiva de quem sofre com ele, é uma tarefa coletiva.”
Antirracismo não é teoria, é pratica
Na mesma pesquisa promovida pelo Instituto Locomotiva, embora a maioria da população entenda a existência do racismo, 85% dos entrevistados não reconhecem que eles mesmos possuem atitudes e práticas consideradas racistas — e só 4% das pessoas brancas assumiram tais ações. Segundo Nunes, para desenvolver uma postura verdadeiramente antirracista, no caso de pessoas não negras ou não indígenas, é necessário, antes de tudo, reconhecer os próprios privilégios. Além disso, é preciso se comprometer com o estudo contínuo e assumir um posicionamento ativo no dia a dia.
“O caminho começa com uma busca por conhecimento sobre a história e cultura africana e afro-brasileira, e sobre as complexidades do racismo estrutural. É fundamental reconhecer os próprios privilégios decorrentes de não ser racializado e exercitar a escuta ativa, validando as experiências de pessoas negras e indígenas sem questionar ou minimizar suas dores. Em situações de racismo, a intervenção é um imperativo moral, seja confrontando a atitude, denunciando e oferecendo apoio à vítima”, destaca a advogada.
“Além disso, apoiar iniciativas e negócios de pessoas negras e indígenas, denunciar o racismo às autoridades e, acima de tudo, embarcar em um processo contínuo de autorreflexão para desconstruir vieses e preconceitos inconscientes são passos essenciais para uma prática antirracista genuína”, completa.
Serviço:
O quê: Curso “Letramento Racial: Desconstruindo Silêncios”
Quando: 8, 15 e 22 de julho, às 19h
Onde: Plataforma virtual
Custo: Gratuito
Inscrições: Formulário virtual
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