Impulsionada pela expansão do plantio de eucalipto no Vale da Celulose, região que abrange dez municípios do “Bolsão” sul-mato-grossense, a cadeia produtiva da indústria de papel e celulose se consolida como um dos principais motores da economia de Mato Grosso do Sul. O setor já representa 10,7% do Produto Interno Bruto (PIB) estadual, segundo estudo elaborado pelo economista Wesley Osvaldo Pradella Rodrigues, professor da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul.
Dados do governo estadual indicam que a área plantada deve atingir 1,753 milhão de hectares em 2025, sendo 98,24% com eucalipto. A projeção para o ano seguinte é ainda maior: 2,7 milhões de hectares, superando Minas Gerais como maior área cultivada do país para produção de celulose.
O estudo “Setor de Papel e Celulose de Mato Grosso do Sul – Cenário e Construção da Matriz Insumo-Produto”, baseado nas estatísticas mais recentes do IBGE, analisa toda a cadeia integrada de insumos e plantio à colheita, industrialização e logística. Os dados mostram que o setor movimentou R$ 15,78 bilhões em 2024, tornando-se o mais relevante dentro da indústria estadual, cuja soma total do PIB foi estimada em R$ 166,8 bilhões.
“A tendência é de crescimento contínuo da participação do setor na economia nos próximos cinco anos, impulsionado pela expansão das áreas cultivadas de eucalipto e implementação de novas plantas industriais previstas para os anos seguintes”, projeta Rodrigues.
No cenário nacional, Mato Grosso do Sul respondeu por 7,79% do valor bruto da produção florestal do país em 2023, que somou R$ 202,6 bilhões, segundo o último relatório da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
Doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional e mestre em Agronegócios, Rodrigues reforça o papel da industrialização como vetor de desenvolvimento sustentado no Vale da Celulose. A região concentra mais de 90% das florestas plantadas do estado e abriga grandes players do setor: Suzano (Ribas do Rio Pardo), Bracell (Água Clara), Eldorado (Três Lagoas) e Arauco (Inocência, com operação prevista até 2028).
Somente a indústria de transformação da celulose movimentou R$ 7,327 bilhões, o equivalente a 21,7% de todo o setor industrial estadual. Outros segmentos ligados à cadeia também apresentaram impacto: o agropecuário movimentou R$ 4,95 bilhões; comércio e serviços, R$ 3,306 bilhões; e a comercialização de insumos, R$ 195,67 milhões.
“Essa diversidade de setores demonstra a complexidade da cadeia produtiva e a importância de cada elo para o desempenho do setor”, destaca o economista.
O avanço da celulose também fortalece o peso da indústria no PIB estadual, que chega a 41,71% de participação. Rodrigues observa que setores com mais de 10% de peso no PIB têm papel decisivo em qualquer economia. Ele ressalta ainda que a produção florestal contribui com a captura de CO₂, apesar de o estudo não se aprofundar nos impactos ambientais.
As projeções do governo de MS para a safra 2024/2025 estimam 1.753.340 hectares de eucalipto, acima das previsões do Incra (1,6 milhão de hectares até 2025 e 2 milhões até 2030). O secretário-executivo da Semadesc, Rogério Beretta, prevê 2,7 milhões de hectares cultivados até 2026, somando eucalipto, pinus e seringueira.
Cinco dos dez municípios com maior área de eucalipto plantado do Brasil estão em MS: Ribas do Rio Pardo, Três Lagoas, Água Clara, Brasilândia e Selvíria. “Esse cenário reforça a posição do Mato Grosso do Sul como uma das principais regiões do Brasil no setor de base florestal, especialmente para fins industriais, com destaque para os polos produtivos de Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo, considerados referências nacionais na produção de celulose e papel”, destaca Bruna Mendes Dias, assessora de Economia e Estatística da Semadesc. Segundo a Secretaria, os investimentos mais recentes no setor somam R$ 75 bilhões.

CELULOSE ULTRAPASSA SOJA NAS EXPORTAÇÕES DE MS
A valorização da celulose no mercado externo fez com que o produto superasse a soja na pauta exportadora de Mato Grosso do Sul no primeiro quadrimestre de 2025. Foram exportadas 2,88 milhões de toneladas, com receita de US$ 1,442 bilhão, alta de 78,1% em relação ao mesmo período de 2024. O resultado ajudou a elevar em 8,41% o superávit da balança comercial estadual, que chegou a US$ 3,25 bilhões.
Enquanto isso, a soja arrecadou US$ 1,162 bilhão, com recuo de 26% mesmo com embarques levemente superiores (2,99 milhões de toneladas). Produtos florestais representaram 35,2% do total exportado no período, superando o complexo soja (34,7%) e carnes (20,8%).
O estado também respondeu por 34,94% das exportações brasileiras de celulose de fibra curta entre janeiro e maio de 2025, com receita de US$ 1,442 bilhão, o equivalente a 36,54% do total nacional de US$ 3,946 bilhões, segundo dados do SINPACEMS.
Em paralelo, o preço da madeira de eucalipto clonal atingiu recorde histórico em maio: R$ 159,13/m³, conforme o Sistema Famasul. A tendência de alta é reforçada pela expectativa de instalação de nova fábrica em Bataguassu. “A confirmação de uma nova fábrica de celulose em Bataguassu (MS) é um forte indicativo que a demanda por madeira de eucalipto deve se manter aquecida por um bom tempo”.
IMPACTO SUSTENTADO E MULTIPLICADOR
Para o economista Rodrigues, o crescimento da indústria de papel e celulose em MS deve se manter firme, sustentado por investimentos e exportações. “Quando se coloca uma matriz de desenvolvimento econômico pautada na industrialização, isso, de certa forma, se sustenta com o tempo porque movimenta toda uma cadeia de valor. Há investimento em fábrica e isso cria um monte de ativos permanentes que vão durar por 10, 20 e 50 anos, tornando-se sustentado”, analisa.
Ele avalia que os incentivos fiscais são compensados pela geração de empregos e movimentação econômica. “Mesmo quando há isenção fiscal, como de IPTU, há compensações por meio de impostos sobre a folha de pagamento e pelo consumo no comércio, que também gera empregos e receita”, explica Rodrigues. Em algumas cidades do Vale da Celulose, até 50% da população está empregada diretamente na cadeia.
Um dos dados mais relevantes do estudo é o efeito multiplicador: cada R$ 1 milhão investido na indústria de celulose gera R$ 5,86 milhões em retorno para o Estado.
PLANEJAMENTO E DESAFIOS AMBIENTAIS
Para o professor e geógrafo Fábio Ayres, da UEMS, a consolidação do Vale da Celulose é fruto de quase cinco décadas de planejamento territorial. “A Rota da Celulose vem sendo planejada mesmo antes de receber este nome. O importante agora é o planejamento continuar para garantir o desenvolvimento econômico em sintonia com a relevância ambiental, com protagonismo dos municípios”, defende.
Ayres reforça a necessidade de ampliar o Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) em nível municipal para equilibrar a expansão econômica com a preservação da biodiversidade, segurança hídrica e adaptação às mudanças climáticas.
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