Explosão do setor de celulose pressiona mercado de trabalho em Mato Grosso do Sul

O Vale da Celulose, no leste de Mato Grosso do Sul, que concentra grandes players nacionais e internacionais como Suzano, Arauco, Bracell e Eldorado, enfrenta um cenário de pleno emprego e dificuldade para preencher cerca de 10 mil vagas imediatas. A escassez de mão de obra é reflexo da rápida expansão do setor de papel e celulose na região.

Um estudo da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá) aponta que novas fábricas em construção devem gerar aproximadamente 100 mil empregos até 2032, o que representa uma média de mais de 10 mil contratações por ano.

O presidente da Associação dos Plantadores e Compradores de Florestas Plantadas (Reflore), Junior Ramires, defende a importação de trabalhadores de outros estados para atender à demanda crescente. “Estamos com grande dificuldade de contratação e acho que o Estado precisa importar mão de obra. Ou seja, trazer, de forma massiva, a mão de obra para que ela possa vir e ficar no Estado, que não vá embora. O Estado precisa hoje de gente que queira migrar para cá”, disse Ramires.

As vagas incluem funções desde auxiliares florestais até operadores de máquina, motoristas, cargos de gestão e engenheiros florestais. Não há exigência de qualificação prévia. “As indústrias se propõem a qualificar e treinar o trabalhador”, destacou. São vagas fixas para operação industrial, não temporárias.

A Ibá reforça que a demanda acompanha o ritmo da expansão do setor no Estado. Somente no curto prazo, a previsão é de até 24 mil postos de trabalho gerados por novos empreendimentos, sendo 24 mil diretos e 69 mil indiretos, de acordo com estudo da ESG Tech encomendado pela Ibá.

CRESCIMENTO IMPULSIONADO POR NOVOS EMPREENDIMENTOS

O governo estadual contabiliza seis plantas industriais em operação e uma área estimada de 1,690 milhão de hectares de eucalipto plantado. Entre os projetos, está a fábrica da Bracell, em processo de licenciamento em Bataguassu, com investimento previsto de US$ 4 bilhões (cerca de R$ 25 bilhões). A unidade deve criar 12 mil empregos no pico da obra e manter 7 mil vagas fixas, com capacidade de produção de 2,6 milhões de toneladas por ano.

Outro projeto em destaque é a nova unidade da Eldorado, que retomou os planos de expansão em Três Lagoas após o fim de disputa judicial com a Paper Excellence. Com investimento de R$ 1,9 bilhão e nova licença ambiental solicitada, a empresa planeja ampliar sua produção em mais de 140%.

 

DESAFIOS ACOMPANHAM A EXPANSÃO

A rápida transformação econômica da região acarreta desafios, como a escassez de moradia nos municípios afetados. “Não tem moradia e faltam estruturas de escola nos municípios, que precisariam estar se desenvolvendo para receber essa mão de obra”, exemplifica Ramires.

Apesar das dificuldades, ele discorda da crítica quanto à falta de planejamento. “O processo de industrialização e o processo de uma produção de florestas demoram sete anos. Então, tudo isso tem de ser muito bem planejado para acontecer, principalmente pelo tamanho das indústrias presentes na região”, afirmou.

Dados do IBGE (PNAD Contínua) apontam que Mato Grosso do Sul tem taxa de desemprego de 4%, bem abaixo da média nacional, que é de 7%. Para o presidente da Reflore, isso mostra que o Estado tem o melhor desempenho no mercado de trabalho do país.

QUALIFICAÇÃO E INCLUSÃO

Segundo a economista Bruna Mendes Dias, da Semadesc, é natural que essa movimentação ocorra dentro do próprio Estado, já que as vagas se concentram em municípios com baixa densidade populacional. “Como a maior parte das oportunidades geradas pelo setor de papel e celulose está concentrada em municípios com baixa densidade populacional, a necessidade de atrair mão de obra de outras regiões acaba sendo um movimento natural”, afirmou.

Ela destaca que o governo está articulado com o setor produtivo e prefeituras para desenvolver estratégias de qualificação e inclusão. “O Governo do Estado tem buscado estratégias para aproveitar esse momento como uma janela de inclusão produtiva. Por meio da capacitação e qualificação profissional, o objetivo é preparar a própria população local para ocupar essas vagas e garantir os benefícios econômicos da expansão industrial”, disse. A criação da legislação do Vale da Celulose é apontada como instrumento estratégico para orientar políticas públicas na região.

O emprego no setor de papel e celulose em Mato Grosso do Sul cresceu 103,6% entre 2010 e 2023, saltando de 11,34 mil para 23,08 mil postos, de acordo com estudo do professor Wesley Osvaldo Pradella Rodrigues, da UFMS, com base nos dados do IBGE. O crescimento supera a média estadual de 14,5% no mesmo período.

Em Água Clara, o setor representa 47,9% dos empregos formais e gera R$ 9,8 milhões em renda anual, consolidando a dependência econômica local do segmento. No total, nos cinco primeiros meses de 2025, o setor gerou 933 novos empregos, o que corresponde a 31% das vagas criadas pela agropecuária no período, segundo dados do CAGED compilados pela Famasul.

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