O atentado contra o senador Miguel Uribe pode ser determinante para as eleições presidenciais da Colômbia. O pleito está marcado para maio de 2026 e ainda não tem candidatos bem definidos, mas o ataque sofrido pelo direitista já começa a apresentar mudanças no tabuleiro político local.
O primeiro sintoma disso são as pesquisas de intenção de voto. Uribe, que até então não era o favorito para o Executivo, hoje lidera alguns levantamentos. O primeiro deles depois do atentado, feito pela empresa EcoAnalítica, indica que o senador tem 13,7% das intenções de voto contra 11,5% de Vicky D’Ávila. Na terceira colocação aparece o ex-senador Gustavo Bolívar, aliado do atual presidente Gustavo Petro, com 10,5%.
Esse cenário mostra o início do que pode ser uma capitalização do atentado por parte do partido Centro Democrático. O grupo de direita fundado pelo ex-presidente Álvaro Uribe elegeu Iván Duque em 2018 e agora retoma força para a disputa contra o Pacto Histórico, coalizão de esquerda que venceu com Gustavo Petro e busca emplacar um novo nome progressista.
O primeiro ponto para isso é a condição clínica de Miguel Uribe. Em entrevista à revista Encuentro, a esposa do senador, María Claudia Tarazona disse que ele teve uma morte cerebral. De acordo com ela, a morte de Uribe era iminente, mas o congressita passou por diversos procedimentos cirúrgicos que começaram a surtir efeito. Hoje, o quadro de Uribe não é divulgado pelo hospital com detalhes, mas o centro de saúde Santa Fé afirma que ele tem apresentado progresso.
Durante esse período, grupos de direita, católicos e até militares foram se manifestar em frente à unidade de saúde em que o senador está internado e começaram um movimento que, para a professora de ciência política da Universidade da Antioquia Andrea Arango Gutierrez, representam essa tentativa de fazer um uso político do atentado.
Essa capitalização, no entanto, ainda depende de encontrar um nome que possa aglutinar a crescente popularidade e transformá-la em votos.
“Ele não terá tempo para ser candidato. O partido vai capitalizar, eles vão fazer uma consulta interna com o nome de Miguel e os senadores Andrés Guerra e María Fernanda Cabal Molina e Paloma Valencia, para buscar um nome que consiga aglutinar isso. Mas quem? A ideia é buscar alguém que tenha essa força”, disse Andrea Gutierrez ao Brasil de Fato.
O partido ainda deve testar os nomes para buscar um consenso a partir das eleições internas. A forma que essas eleições serão feitas, no entanto, ainda não está definida. Uma das principais lideranças, Alvaro Uribe, disse que não será candidato e tem buscando reunir outros quadros para chegar a um denominador comum.
A própria esposa do senador tem aparecido como uma possibilidade, mas ainda não aparece como um nome de popularidade e muito menos de consenso dentro do partido.
Miguel Uribe é neto de Julio César Turbay, que foi presidente da Colômbia entre 1978 e 1982, e a jornalista Diana Turbay, Embora pertença ao mesmo partido e tenha o mesmo sobrenome do ex-presidente Álvaro Uribe, os dois não possuem parentesco.
Uribe é senador desde 2022. Anteriormente, ele atuou como secretário de governo de Bogotá e se candidatou à prefeitura da capital, sendo derrotado em 2019.
No começo de junho ele foi atingido por três disparos, dois deles na cabeça e um no joelho, quando discursava em um bairro da capital colombiana. Imagens divulgadas nas redes sociais mostram o momento do ataque, em que o senador cai no chão após ser atingido, e depois aparece ensanguentado, sendo socorrido sobre um veículo.
Até o momento, 6 pessoas foram presas por participarem do atentado contra o senador. A última delas se entregou na última quarta-feira (16). A investigação indica que José Arteaga Hernández, conhecido como El Costeño, teria recebido cerca de 750 milhões de pesos (R$ 1 milhão) para planejar e executar o ataque armado contra Uribe.
Setores do Pacto Histórico, no entanto, tentam aconselhar Petro para que ele não entre de maneira política nas investigações e deixe que a Justiça e o Ministério Público façam esse trabalho. A ideia é que existe a possibilidade de que uma rede mais ampla esteja envolvida nesse caso e que a questão política seja parte de outras questões, como grupos ligados ao tráfico de drogas.
Ao entrar de cabeça nas investigações, há o temor de uma ala do Pacto Histórico de que a direita use isso para justamente tentar ligar a imagem do presidente a essas organizações criminosas.
Julgamento também influencia
Outro fator determinante para as eleições pode ser o julgamento de Álvaro Uribe. O ex-presidente e ex-senador é acusado de suborno e fraude processual. O caso iniciou em 2014 com a denúncia do senador Iván Cepeda, do Polo Democrático, de que Uribe teria apoiado e financiado a criação do grupo paramilitar Bloque Metro, um braço das Autodefesas Unidas de Colombia (AUC).
Grupos armados irregulares começaram a surgir em 1980 na Colômbia, mas durante o governo uribista foram anistiados de acusações de crimes contra civis com a aprovação da lei de “justiça e paz”, em 2005.
Em resposta, Uribe abriu um processo contra o senador de esquerda, alegando que Cepeda havia pago subornos a paramilitares presos para que testemunhassem a seu favor.
Para Consuelo Ahumada, professora de Ciência Política da Universidade Externado da Colômbia, a tendência é que a decisão sobre Uribe tenha efeitos significativos para as eleições e podem ser aproveitados pela direita, tanto sse ele for condenado, quanto em uma eventual condenação.
“É um distrator frente a outras coisas. A decisão final de Uribe será em 28 de julho. E isso será instrumentalizado. Se Uribe for condenado, a direita pode capitalizar isso para dizer que foi uma montagem e que ele é alvo de um processo injusto. Se ele for inocentado, vão dizer que não teve nada contra ele e que o grupo apresenta uma idoneidade”, disse ao Brasil de Fato.
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