Violência é instituto do capital, afirma CPT; Brasil teve quase 51 mil conflitos no campo em 38 anos

A Comissão Pastoral da Terra (CPT) lançou nesta segunda-feira (21), durante o 5º Congresso Nacional da entidade em São Luís (MA), o Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro. A publicação inédita contabiliza 50.950 ocorrências de conflitos no campo entre 1985 e 2023. Quase metade dos casos (44%) ocorreu na Amazônia Legal. O Atlas revela ainda 2.008 assassinatos por conflitos no campo. A Amazônia também lidera esse índice, com 66,8% das mortes.

“O Atlas é um instrumento extraordinário para entender o mecanismo da violência, o instrumento da violência como uma forma de impedir o acesso e a permanência nas terras e nos territórios”, afirma Carlos Lima, coordenador nacional da CPT, em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Segundo ele, o material concretiza um antigo sonho do geógrafo Carlos Walter (1949-2023), que atuou junto à CPT até seu falecimento.

Para Lima, a violência não é um acidente, mas parte da lógica de expansão do capital sobre os territórios tradicionais. “A violência é o instituto utilizado pelo agronegócio, é o instituto utilizado pelas mineradoras. Então, ela faz parte do mecanismo que eles utilizam para deixar a terra liberada para o uso excessivo do capital”, afirma. Entre os casos registrados, 84% são disputas por terra, 8,9% envolvem trabalho escravo e 7,1% referem-se a conflitos por água.

O levantamento mostra que 80% das violências são praticadas por empresas, fazendeiros, mineradoras ou o próprio Estado, enquanto ações de movimentos populares, como ocupações e acampamentos, representam apenas 20% do total. “Isso derruba a tese de que a violência é causada pelos trabalhadores. Mesmo quando o número de retomadas diminui, a violência continua implacável”, indica o coordenador.

Entre 1985 e 2023, foram registrados 4.559 conflitos envolvendo povos indígenas, sendo mais da metade só nos últimos cinco anos. Os indígenas são a terceira categoria mais atingida por ações violentas contra ocupação e posse, atrás apenas de trabalhadores sem-terra e posseiros. “Onde tem os povos, as florestas estão em pé, as águas são limpas, tem a caça, a pesca. Esses territórios são ‘pérolas’ para o capital”, denuncia Lima.

Romper cercas e tecer teias

O Atlas dos Conflitos no Campo Brasileiro foi lançado durante o Congresso que marca os 50 anos da CPT, celebrado sob o lema “Romper cercas e tecer teias: a terra a Deus pertence!”. O evento reúne mil participantes e segue até sexta-feira (25), com debates, tendas temáticas, atividades culturais e uma caminhada em homenagem aos mártires da luta por terra, como o padre Ezequiel Ramin, assassinado há 40 anos.

O encontro deve ser encerrado com a divulgação de uma carta à sociedade brasileira, construída a partir das falas das comunidades presentes. “Esse Congresso é um encontro dos povos, das comunidades, uma escuta, muita fala do povo, para que a CPT possa ser orientada, seguir esse serviço pastoral a partir da realidade”, explica Carlos Lima.

Para ouvir e assistir

O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda a sexta-feira, uma às 9h e outra às 17h, na Rádio Brasil de Fato98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão simultânea também pelo YouTube do Brasil de Fato.

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