O governo venezuelano colocou os jovens na rua e mobilizou eleitores neste domingo (27). Em uma votação movimentada, as eleições para prefeitos e vereadores na Venezuela foram acompanhadas de uma consulta popular voltada para a população com idade entre 15 e 35 anos. Com isso, a participação na votação de hoje foi maior do que a registrada no pleito de governadores, que aconteceu em maio.
Naquela ocasião, apenas 25% do eleitores saíram para votar, mas agora a expectativa do governo é que mais gente participe. Leida Leal é chefe de rua da comuna San José e entende que a presença de jovens na consulta popular estimula a votação no pleito para prefeitos.
“Fizemos um trabalho para mobilizar adolescentes e jovens para votar pelos projetos. Queríamos isso para que os jovens tenham essa iniciação política e possam escolher projetos que impactam na vida deles. Eles entendem que, se nós não participamos, estamos dando a outro o direito de escolher. Eu voto pelo governo porque pra mim é importante a colaboração e uma política para as pessoas mais pobres”, disse ao Brasil de Fato.
Além de 335 prefeitos e 2.471 vereadores, serão escolhidos 5.338 projetos para as comunas de todo o país, que receberão US$ 10 mil (R$ 56 mil) para serem executados nos próximos meses.
O governo celebrou a participação “expressiva” até às 14h. O presidente da Assembleia Nacional e chefe do comando de campanha do Partido Socialista Unido de Venezuela, Jorge Rodríguez, destacou a presença dos eleitores jovens e questionou a importância dada à abstenção, já que o voto não é obrigatório no país.
“A abstenção não existe. Contamos os votos dos que foram para determinar o vencedor. Alguns países invejam a participação eleitoral que sempre prevalece nas eleições venezuelanas, independentemente do resultado”, afirmou.
Para os jovens, a consulta serve como um estímulo para ampliar a votação para as eleições municipais, especialmente para aqueles que vão votar pela primeira vez. Maria Rivas é estudante universitária e saiu cedo de casa para evitar pegar filas e para entender o processo eleitoral, já que nunca tinha participado de uma eleição. Seu grupo de amigos também foi participar da votação, motivados pela escolha de um projeto.
“Vim votar para a consulta porque nos dá a oportunidade de promover ideias e projetos para a comunidade. Essa consulta ajuda inclusive que os jovens venham participar e votar nos prefeitos. Tenho vários amigos que se motivaram para votar, o que mostra essa mobilização”, afirmou.
Desde às 6h já havia filas nas diferentes escolas de Caracas. Nos bairros nobres da capital, mesmo sem a identificação com as comunas, os centros de votação também estavam movimentados. É o caso de Chacao, um dos municípios mais ricos da Venezuela. Moradores saíram cedo para avaliar a gestão de Gustavo Duque, que busca a reeleição pelo partido de direita Fuerza Vecinal.
A cidade é um reduto eleitoral da direita e a mobilização dos eleitores se deu justamente por uma proximidade maior com a política local. Angélica Flames trabalha no RH de uma empresa e acredita que mais pessoas saíram hoje em relação ao pleito para governadores porque, no caso do municípios, é possível ver o resultado direto da política.
“Já votei para governador e essa eleição tem mais pessoas porque as últimas eram maiores, para governadores. Agora tem mais informações, uma proximidade maior com os candidatos. Eu sei como foi a gestão do prefeito com mais detalhes e posso afirmar que foi uma boa gestão. Para o estado não tanto, porque nossa cidade é uma parte pequena do estado, não consigo dizer nos outros lugares como foi”, disse.
Para os eleitores, é possível entender como foi a gestão do prefeito em questões que impactam diretamente na vida dos trabalhadores, como segurança, saúde, iluminação pública e educação.
Nos bairros de classe média e média alta, no entanto, os eleitores têm um afastamento das comunas. Por serem espaços de autogestão estabelecidos durante o governo do ex-presidente Hugo Chávez, os circuitos comunais são espaços de discussão política intensa e, em sua maioria, com tendência socialista. Os núcleos da direita venezuelana preferem não participar dessas discussões e sequer sabiam da existência da consulta popular.
É o caso de Mayra Rincón. Ela é jornalista e não sabia que a votação dos projetos aconteceria no mesmo momento em que a eleição para prefeitos.
“Eu fui informada agora da possibilidade de votar para projetos esportivos de uma comuna aqui perto de casa. Mas eu não participo das comunas porque não entendo esse processo e não estou envolvida com isso. Então acabei só votando para prefeito”, afirmou.
Expectativa do governo
Depois de ganhar as eleições de governadores em 23 dos 24 estados venezuelanos, o governo pretende agora repetir a dose e obter uma vitória expressiva nas eleições municipais. A extrema direita liderada pela ex-deputada ultraliberal María Corina Machado usou a mesma estratégia da eleição regional e, mais uma vez, boicotou o pleito.
Isso rachou a direita, que tem setores que querem participar. Há alguns lugares em que a oposição não abre mão por ter um domínio político estabelecido, especialmente as zonas mais ricas. Além de Chacao, Baruta e Lechería são algumas das cidades mais ricas da Venezuela e hoje são administradas por políticos de direita. Opositores entendem que essas são as “joias da coroa” porque é onde está o poder político e as maiores cidades do país em termos demográficos.
Valencia, Maracay, Maracaibo, Barquisimeto, Barcelona, Puerto La Cruz também são observados pela direita por conta da importância política e econômica. A meta da oposição não é buscar só cidades populosas, mas também municípios com posições estratégicas, que tenham relevância em produção petroleira, fluxo comercial e produção industrial significativa. O Brasil de Fato conversou com setores do chavismo que entendem que, nesses espaços, o governo deve enfrentar mais dificuldade para conseguir eleger candidatos de esquerda.
O post Jovens participam de eleição para prefeitos na Venezuela e mobilização empolga governo apareceu primeiro em Brasil de Fato.