
Interesse americano pelos minerais críticos desperta atenção dos brasileiros para essa riqueza nacional
O interesse dos Estados Unidos pelos minerais críticos brasileiros acabou despertando a atenção dos cidadãos para uma riqueza nacional que é fundamental para a indústria de tecnologia. E a exploração destes minerais é desafiadora.
É um trabalho que exige pesquisa, investimento e uma mineração ambientalmente responsável.
No Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, o lítio é extraído a mais de 200 metros de profundidade.
O mineral é usado nas indústrias farmacêutica, automotiva e energética. O lítio é fundamental para a transição energética. O Brasil tem a sexta maior reserva do mundo. Também estão aqui a maior reserva de nióbio do planeta, a segunda maior reserva de grafita, a terceira de níquel, e o Brasil ainda se destaca com reservas de manganês, alumínio, cobre, cobalto, vanádio e terras raras — um grupo de 17 elementos químicos fundamentais para carros elétricos e a indústria de defesa.
A produção de terras raras ainda é pequena — concentrada em Goiás. De cada tonelada de minerais retirados, só se extrai um quilo de terras raras. É um processo caro, explica Raul Jungmann, presidente do Ibram — instituto que representa as mineradoras.
“Você tem uma primeira fase, que é a extração — que é você explorar o material, ou seja, a terra rara. A segunda parte, que já é mais cara, é da separação — é quando você separa da terra que nós chamamos de estéril. E a terceira fase, que é a mais complexa, mais sofisticada, mais cara, é quando você separa os 17 materiais que são partes das terras raras uns dos outros, e dá a eles um teor de pureza e concentração demandados pelas outras indústrias que vão fazer o uso das terras raras”, comenta Raul Jungmann, diretor-presidente do Instituto Brasileiro de Mineração.
E há um grande caminho a se percorrer para se detalhas as áreas onde estão os minerais estratégicos, segundo o professor de engenharia de minas da UFMG, Roberto Galery:
“Todo mapeamento geológico é pessoal no campo, trabalhando diretamente, gerando os mapas geológicos. E depois, com o conhecimento da localização desses recursos, vem o conhecimento mais profundo, que é a perfuração — fazendo a pesquisa mineral que vai avaliar o recurso, a quantidade, teor e qualidade”.
Em um laboratório, em Lagoa Santa, na Grande BH, surge o embrião de um projeto que pode mostrar que há viabilidade de processamento das terras raras no Brasil. Lá, os minerais passam por uma cadeia produtiva completa — desde o beneficiamento, a fabricação e até a reciclagem. Assim, geram elementos poderosos — chamados ímãs permanentes — usados nos setores automotivo, eletrônico e de energia renovável.
“O Brasil, como segundo maior reserva de terras raras, tem que ter uma estrutura como essa daqui, né? Aqui é o demonstrador da tecnologia. Então, nos próximos três anos, o que vai ser construído aqui vai servir de exemplo para que venham novos investimentos”, destaca Eduardo Neves, pesquisador do CIT SENAI ITR.
Outro grande desafio é conciliar a exploração mineral e a preservação do meio ambiente. O pesquisador do Instituto Federal de Minas Gerais, Daniel Neri, diz que os impactos são potencializados por causa da necessidade de se retirar uma grande quantidade de minerais para encontrar uma porção reduzida dos elementos.
“A engenharia atualmente oferece tecnologias que permitiriam ao setor minerário mitigar boa parte dos impactos ambientais que a exploração de grande escala dos minerais — historicamente explorados e agora desses metais, dessas terras raras — provoca. Mas, infelizmente, o que a gente tem visto é sempre a adoção de soluções mais baratas, portanto, mais danosas, e que colocam em risco a população do entorno, o meio ambiente, a biodiversidade”, afirma Daniel Neri, pesquisador de política ambiental e professor do IFMG.
Brasil tem desafios para explorar minerais críticos
Reprodução/TV Globo
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