A recente descoberta de um reservatório de petróleo e gás na Bacia de Santos pela multinacional British Petroleum (BP) é motivo de indignação para representantes do setor petroleiro brasileiro. A empresa arrematou o bloco em um leilão realizado em 2022, durante o governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e entregará ao Brasil apenas 5,6% do óleo excedente. Para Tadeu Porto, diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte Fluminense (Sindipetro-NF), a operação evidencia o desmonte da soberania energética nacional.
“Os prejuízos são muito grandes, vemos com muita indignação”, afirma o sindicalista em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. Segundo ele, a Petrobras, que antes tinha preferência nos leilões da chamada partilha de produção, foi preterida após mudanças legislativas ocorridas no governo do ex-presidente Michel Temer (MDB), que retiraram a obrigatoriedade de operação exclusiva da estatal.
A BP, destaca Tadeu, levou o campo oferecendo apenas o excedente mínimo exigido. “A Petrobras costuma deixar um óleo excedente de 10 a 15%. Isso vai diretamente para o Estado brasileiro e sabemos como que o barril de petróleo tem valor”, diz.
Além da perda de receita, ele aponta que a entrega da exploração a empresas estrangeiras como a BP, que tem histórico de vazamentos ambientais e dificuldades financeiras, compromete também a liderança tecnológica brasileira em águas ultraprofundas. “É como se o Flamengo reforçasse o Vasco, o Palmeiras reforçasse o Corinthians”, compara.
Porto relembra acidentes como o da Chevron em 2010 e o desastre ambiental provocado pela própria BP no Golfo do México. Para ele, o Brasil precisa proteger sua expertise e vincular a exploração de petróleo a uma transição energética justa. “Temos um grande plano para que o próprio dinheiro do petróleo financie uma transição energética justa, inclua os trabalhadores e as trabalhadoras também, na soberania nacional”, afirmou.
O dirigente também critica a privatização de ativos da Petrobras durante o governo Bolsonaro, como refinarias, distribuidoras e dutos, que, segundo ele, elevou o custo dos combustíveis. “Você, companheiro ou companheira que está em casa, pagando caro no gás de cozinha, na gasolina, é porque o Bolsonaro privatizou a BR Distribuidora, a Liquigás, a Gaspetro, os dutos, refinarias…”, lembra.
Defesa de fundo social, direitos trabalhistas e investimento
Tadeu defende que parte significativa da receita do petróleo seja destinada à criação de um fundo para financiar políticas públicas sustentáveis. “Um fundo social, que já chegou a ter na casa dos 120 bilhões de reais, já ajudaria muito para que a gente pudesse fazer o reflorestamento, fazer a recapacitação dos trabalhadores para as indústrias mais limpas”, exemplificou.
Presente na plenária nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Tadeu reforça que os debates incluem a defesa de direitos trabalhistas, a previdência complementar e a segurança no trabalho, além da luta por uma indústria nacional forte. “Vivemos um momento agora, principalmente com essa questão do tarifaço do Donald Trump, e nos demos conta de quão primário está o mercado exportador brasileiro”, diz.
Segundo ele, é preciso retomar investimentos em refinarias e construção civil pesada para agregar valor à produção nacional. “Estávamos no caminho certo. Infelizmente, os Estados Unidos nos atacou com a [Operação] Lava Jato, mas conseguimos retomar. Se deixássemos [o presidente] Lula fazer o trabalho bem feito que ele fez junto com a [ex-presidente] Dilma [Rousseff (PT)], eu tenho certeza que chegaremos lá, para sermos um país soberano”, defende.
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