
Estudo do Unicef em parceria com instituições do Rio mede efeitos da violência armada na aprendizagem e no abandono escolar
No Brasil, um estudo do Unicef em parceria com instituições do Rio mediu os efeitos da violência armada na aprendizagem e no abandono escolar.
O aprendizado interrompido pelo medo.
“Dar aula, estudar num lugar que tem conflito e trabalhar, secretário escolar, a gente, educador, diretor, todos eles sofrem muito, a gente fica muito traumatizado”, diz André Mendes de Souza, secretário escolar.
No lugar da rotina da sala de aula, incerteza… insegurança.
“Isso é chamado estresse tóxico, esse medo de sair de casa, esse medo de ser atingido no caminho da escola, ou de perder alguém próximo, isso vai afetar atenção, vai afetar a memória, a concentração e vai dificultar o aprendizado”, afirma Telma Vinha, professora da Faculdade de Educação da Unicamp.
Um estudo do Unicef, feito em parceria com outras instituições do Rio, mediu a desigualdade de aprendizado gerada pelo cotidiano de tiroteios. Em alguns territórios dominados pelo crime, quase 40% dos estudantes não atingiram o mínimo de conhecimento esperado para o ano escolar.
“Aquela violência do cotidiano, vivida ali no dia a dia e o controle territorial armado, eles prejudicam de forma persistente, sistemática e cumulativa a educação das crianças e adolescentes no Grande Rio. Têm um atraso de quase seis meses nessa aprendizagem”, explica Flávia Antunes, chefe do escritório do Unicef no Rio de Janeiro.
Os pesquisadores avaliaram o desempenho de alunos do 5º e 9º anos do ensino fundamental em língua portuguesa e matemática. Todos de escolas públicas. Em matemática, por exemplo, a diferença entre as notas de alunos do 9º ano de áreas dominadas por milícias e não dominadas é de quase 10 pontos.
Mais difícil aprender e mais difícil permanecer na escola. Os números da pesquisa mostram que a taxa de abandono escolar também é maior nas unidades de ensino que vivem cercadas pela violência.
“Quando a gente pensa em taxa de abandono, de novo, o controle territorial importa, a gente chega a ter uma diferença aí de 3, 4 pontos percentuais entre escolas que não estão em áreas dominadas e escolas que estão em áreas dominadas por algum grupo”, diz Maria Isabel Couto, diretora de Dados e Transparência do Instituto Fogo Cruzado.
“Há caminhos possíveis para mudar esse cenário, é muito possível de ser ajustado, se der melhorado. A questão da violência armada ela precisa fazer parte do desenho das políticas de educação. E a pauta da infância, ela precisa fazer parte da discussão sobre segurança pública. Não tem mais como você separar esse tipo de discussão. para uma gestão central investir numa política pública sem pensar na outra acaba sendo um esforço que gera esses problemas que a gente está vendo”, afirma Flávia Antunes.
Estudo revela os efeitos da violência armada na aprendizagem de crianças e adolescentes
Reprodução/TV Globo