Com cinco meses de implementação, o programa Vai de Graça contabilizou um aumento expressivo na demanda de passageiros no sistema de transporte coletivo. Houve acréscimo de 61% no metrô e 69% nos ônibus comparado ao ano passado. Os dados foram apresentados nesta quarta-feira (6), durante reunião técnica da Comissão de Transporte e Mobilidade Urbana (CTMU) da Câmara Legislativa do Distrito Federal.
O programa Vai de Graça foi instituído em fevereiro deste ano e começou a valer no primeiro dia de março. Nele, os usuários do transporte público coletivo e transporte público rural ficam isentos de pagar a tarifa. A isenção vale para os domingos e feriados, mas a possibilidade de estender os dias de tarifa zero também é avaliada.
Na avaliação do deputado distrital Max Maciel (Psol-DF) o programa precisa ampliar os horários das linhas com maior demanda. “Defende o tarifa zero e queremos que ele seja implementado e ininterrupto todos os dias da semana, e obviamente que só vai ser possível fazer isso escalonando. Estamos discutindo um sábado num mês, uma data mais especial, além dos feriados já existentes. E a partir daí entender o que vamos melhorar nesse sistema”, explica o parlamentar que é presidente da CTMU.
Representantes da Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) e do Metrô-DF também acompanharam a reunião. Segundo Márcio Aquino, diretor de manutenção e operação do metrô, o programa de gratuidade não trouxe prejuízos.
“A operacionalização desta iniciativa não tem acarretado prejuízos até agora. Vimos que a população adotou essa medida, especialmente aos domingos, seja para trabalhar ou de lazer. A extensão de horário foi implementada visando também atender aos profissionais que atuam em estabelecimentos comerciais, como shoppings ,além de usuários de transporte público que necessitam de mobilidade até mais tarde, moradores e colaboradores de condomínios (incluindo desempregados e porteiros), e uma diversidade de outras pessoas que passaram a se beneficiar dessa ampliação”, explicou.
Para dimensionar os dados do Vai de Graça, a Semob estuda implementar a obrigatoriedade do uso de cartão de transporte para utilizar o serviço, de acordo com o subsecretário de Operações da pasta, Márcio Antônio. Será estipulado um prazo para que os cidadãos obtenham o cartão, mas ainda está em análise.
“Só vai poder usar o Vai de Graça quem tiver um dos cartões, BRB Mobilidade, Passe Livre Estudantil, qualquer um. Porque aí nós teremos o controle exatamente daqueles números para fazermos uma política social, de transporte coletivo, para definirmos parâmetros e implementar melhorias no sistema”, argumentou.
Durante a reunião, ativistas pela mobilidade urbana destacaram a importância da participação social para auxiliar na avaliação do programa. Militante do Movimento Passe Livre (MPL) e do Observatório das Metrópoles Paíque Santarém criticou a exigência do Cartão Mobilidade para acesso ao Vai de Graça. “É um erro restringir o tarifa zero apenas para quem possui cartão de mobilidade. Direito não se retira, amplia-se”, destacou.
Regiões com maior demanda
No período de março a abril de 2025, as estações de metrô Estrada Parque, Taguatinga Sul e Feira do Guará, apresentaram aumento superior a 100% na demanda durante os domingos em que a gratuidade foi aplicada em relação ao mesmo período no ano anterior.
Em relação ao transporte por meio de ônibus, os números mostraram que as 20 linhas com maior incremento de demanda concentram-se, majoritariamente, nas seguintes regiões administrativas: Paranoá, Itapoã Parque, Pôr do Sol/Sol Nascente, Ceilândia (P Sul e Setor O), Taguatinga, Recanto das Emas e Riacho Fundo II.
De acordo com o relatório, os resultados apresentados no levantamento revelam o potencial do Vai de Graça como instrumento de inclusão social, ampliação do acesso à mobilidade urbana e incentivo ao uso do transporte público, podendo apresentar reflexos positivos na redução da emissão de poluentes, descongestionamento viário e aquecimento da economia local.
Recomendações ao governo
Além do levantamento dos dados do primeiro semestre, a CTMU elencou uma série de recomendações à Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) para melhorias e expansão do programa.
Entre elas, a criação de um site para o programa, com atualização periódica de dados de operação e disponibilização de informações financeiras encaminhadas à CTMU. A elaboração de estudos de impacto socioeconômico e ambiental também é uma das sugestões à pasta.
Para o presidente da comissão, os impactos precisam ser analisados em conjunto com órgãos do governo. “Desde a iniciativa do Vai de Graça, anunciada em fevereiro de 2025, temos emitido ofícios com diversos questionamentos direcionados especialmente à Secretaria de Transporte e Mobilidade, ao Metrô e ao Conselho de Transporte Coletivo. Em todas as comunicações deixamos claro nosso apoio à medida, mas destacamos a importância de avaliar seus impactos e garantir qualidade”, ressaltou Maciel.
A implementação do programa é uma conquista que rompeu barreiras importantes no direito à cidade, explica o deputado distrital Fábio Felix (Psol-DF). “Atravessamos uma barreira ideológica que estava colocada antes, porque as experiências concretas nos ajudaram. Experiências concretas no Brasil e fora do Brasil nos ajudaram nessa disputa ideológica”.
Participação social
“Com seis meses de tarifa zero, não observamos dados que comprovem a deterioração do transporte, o uso abusivo do serviço ou o aumento da violência urbana, contrariando as expectativas negativas. A ausência dessas informações refuta o mito, desprovido de fundamento, de que a tarifa zero aumenta a criminalidade. Sugiro que a Câmara Legislativa do DF crie um conselho de acompanhamento, com reuniões regulares e participação de diversos setores da sociedade civil”, destacou Santarém.
Além disso, o especialista aconselhou que a Câmara Legislativa do DF a pressionar o governo federal pela discussão da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 25) que estabelece o Sistema Único de Mobilidade. A proposta cria um Sistema Único de Mobilidade (SUM) com Tarifa Zero, Gestão Participativa, Qualidade no Transporte e organização municipal-estadual-federal do transporte em todo país.
Sobre o assunto, Giancarlo Gama, cientista político e diretor da Jevi Cidades, pontuou que a política de transporte público de mobilidade urbana não é uma política apenas de mobilidade. “Se não temos transporte de qualidade e acessível para todo mundo, o acesso à saúde, educação, cultura fica comprometido de forma muito intencional e comprometido por uma parcela muito específica da população, que é a população mais pobre, obviamente, a população negra”.
Gama argumentou ainda que a política de mobilidade é uma política transversal. “É uma pauta de efetivação, de uma política de mobilidade de conexão da cidade, direito à cidade, mas ela é também concretizadora de forma transversal de vários outros direitos básicos. E, é por isso que precisamos discutir de forma propositiva a proposta do Sistema Único de Mobilidade”, finalizou.
Seminário de mobilidade
Nos dias 21 e 22 de agosto, a CLDF sediará o 2º Seminário Internacional de Mobilidade Urbana. Com o tema Sistemas sob Trilhos, Eletrificação e Descarbonização: Pensando a Mobilidade do Futuro, o evento é realizado pela CTMU em parceria com a Finatec. O objetivo é ampliar o debate sobre alternativas sustentáveis ao atual modelo de mobilidade, ainda fortemente baseado no transporte individual motorizado.
A programação inclui painéis sobre trens, metrôs, eletrificação da frota e estratégias de descarbonização, reunindo nomes do Brasil, Portugal e Chile, além de gestores públicos e representantes de universidades.
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O post Tarifa Zero: número de usuários de ônibus no DF aumentou 69% com o programa ‘Vai de Graça’ apareceu primeiro em Brasil de Fato.