Café mais barato no supermercado. Culpa da safra ou do tarifaço? Entenda

Café
O preço do café no atacado já havia caído em junho (-11,01%), segundo dados do Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M). Foto: Freepik

O preço do pó de café, um dos vilões da inflação de alimentos nos últimos tempos, começou a ter um pequeno recuo nas prateleiras dos supermercados em julho. Mas, apesar do tarifaço de 50% imposto por Donald Trump ao produto brasileiro, o que poderia redirecionar as exportações para o mercado interno, especialistas afirmam que a retração atual de preços se deve à entrada da nova safra do grão no mercado.

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) mostram que a safra de café 2025 será de 55,7 milhões de sacas de 60 quilos de grão beneficiado. É 2,7% maior do que a de 2024, que foi fortemente castigada pelo clima durante o desenvolvimento das lavouras. A maior quebra observada foi em Minas Gerais, o principal produtor.

A lavoura do café é conhecida pela bienalidade. Isto é, há alternância entre um ano de safra alta e o seguinte, de safra baixa. Neste ano, a bienalidade é de safra baixa.

Mesmo assim, segundo a Conab, será a maior safra de baixa bienalidade da série histórica. Em relação à última safra de bienalidade baixa, que foi a de 2023, a safra deste ano será 1,1% maior.

Safra do café

“Muito disso (queda de preços) está relacionado ao movimento de colheita, temos um aumento de oferta no momento”, afirmou o pesquisador de café do Centro de Estudos Avançados em economia Aplicada (Cepea), da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (USP), Renato Garcia Ribeiro.

O preço do café no atacado já tinha caído em junho (-11,01%), segundo dados do Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M), da Fundação Getulio Vargas (FGV) e recuou 22,52% em julho.

Os índices de preços ao consumidor já captaram esse movimento. No Índice de Preços ao Consumidor Amplo — 15 de julho, a prévia da inflação oficial do País, o preço do café recuou 0,36%. Mas acumula em 12 meses alta de 76,50% nos últimos 12 meses e de 48,72% no ano.

No Índice de Preços ao Consumidor da Fipe do mês fechado de julho, que mede a variação das cotações na cidade de São Paulo, o preço do café caiu 3,03%. O que contribuiu para a deflação de 0,48% do grupo alimentação registrada no período.

Os dados que a gente tem de preços ao consumidor ainda não pegam muito tempo pós-anúncio do tarifaço, teremos mais informações com o IPCA fechado de julho,

ponderou Marcela Kawauti, economista-chefe da Lifetime Gestora de Recursos.

Trump anunciou a tributação em 9 de julho e o efeito no IPCA-15 de julho é de apenas seis dias. Felipe Sales, economista-chefe do C6 Bank, faz coro com Marcela. “Não conseguimos ver objetivamente o impacto do tarifaço nos preços.

Atacado

Também nos preços dos alimentos no atacado, onde seria possível detectar primeiro o impacto do tarifaço, esse movimento não está claro.

Existem movimentos de queda para alguns itens, mas que não podem ser associados à questão da tarifa, já eram tendências,

afirmou o economista da FGV/Ibre e coordenador de índices de preços da FGV, André Braz.

De acordo com ele, as quedas de alimentos no atacado de produtos alvo do tarifaço dos EUA já vinham ocorrendo. Além disso, as empresas informantes para apuração do IGP-M não notificaram recuos de preços em razão das taxas, como costumam fazer quando há algo excepcional.

Braz faz essas observações a partir dos resultados do IGP-M de julho, cuja coleta de preços se encerra no dia 20 de cada mês. Portanto, apenas 11 dias de ameaça do tarifaço afetaram o indicador de julho.

Frutas

No varejo, a expectativa do consumidor é que frutas destinadas ao mercado americano, por exemplo, uva, manga e mamão poderiam ser ofertados em maior volume no mercado doméstico e, com isso, o preço recuar.

Conforme afirmado pelo chefe da seção de Economia e Desenvolvimento da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), Thiago de Oliveira, informa, por meio de nota, que não detectou “impactos generalizados” na oferta de manga, uva e mamão. “Produtores e comerciantes seguem apreensivos, mas ainda não houve montantes expressivos de mercadorias destinadas a Ceagesp que seriam exportadas”, diz Oliveira.

No caso da manga Tommy, a principal variedade exportada, os preços no atacado subiram 7,4% no mês, informa a Ceagesp. Já manga da variedade Palmer, destinada ao mercado interno houve queda de 20,4% de preços no mesmo período.

De acordo com Oliveira, alguns produtores de manga Palmer, temendo a queda de preços por conta da maior oferta da manga Tommy destinada à exportação, colheram a fruta e enviaram à Ceagesp. Também o clima mais frio afetou o consumo da fruta contribuiu para o recuo de preços.

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