
Mãe de médica morta em tragédia aérea da Voepass lidera mobilização de familiares das vítimas.
A dor de perder a única filha transformou a vida de Fátima Albuquerque, de 66 anos. Mãe da médica Arianne Risso, uma das vítimas do voo 2283 da Voepass que caiu em Vinhedo (SP), ela agora preside a associação criada por familiares para cobrar justiça e acompanhar de perto as investigações da tragédia aérea.
Arianne trabalhava no Hospital do Câncer de Cascavel, no oeste do Paraná, e era conhecida pelo bom humor e dedicação aos pacientes.
“Desde pequena as pessoas diziam: ‘sua filha é diferente’. Ela não tinha apego com a matéria, era só dedicação aos pacientes, ao estudo e a seguir o Senhor Jesus”, diz a mãe.
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Fátima conta que, para ela, a dor não diminui com o tempo. “A gente aprende a criar uma realidade paralela para não sucumbir. Porque a dor aumenta. Não existe tempo que supere ou acalme a dor de uma mãe”, diz.
“Eu finjo todos os dias que ela está lá no hospital cuidando dos doentes, porque quando me deparo com a realidade, vem o desespero”, conta Fátima.
Arianne era a única filha de Fátima Albuquerque.
Arquivo pessoal
Associação de familiares das vítimas cobra respostas
Fátima Albuquerque é presidente da associação de familiares das vítimas
Arquivo pessoal
A Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 2283 atua na pesquisa, análise de documentos e articulação com autoridades para cobrar respostas sobre o acidente e medidas de segurança que possam evitar novas tragédias.
“Diariamente trabalhamos pela associação e pelos familiares. Buscamos justiça mesmo […] Nós acompanhamos o passo a passo da investigação, contribuindo, pesquisando, estudando”, afirma Fátima.
Segundo ela, o grupo foi responsável por pressionar órgãos de fiscalização e denunciar irregularidades que poderiam ter evitado o acidente.
“A gente também fez parte dessa questão de cobrar, de colocar aquela empresa no chão. Pelo relatório que a Anac passou, ela não deveria estar voando.”
Ela ressalta que o trabalho da associação também pode ser considerado um trabalho de prevenção.
“Nunca saberemos quantas pessoas foram salvas pelo fato dessa empresa não voar mais, mas temos certeza que muitas vidas foram salvas”, afirma.
Segundo Fátima, o dinheiro de indenização pago pela Voepass por dano coletivo às famílias vítimas do acidente será revertido à comunidade de Cascavel, para iniciativas voltadas à saúde e projetos sociais.
As indenizações individuais aos herdeiros das vítimas estão sendo tratadas por cada família, sob sigilo.
O que diz a Voepass
Em nota, a Voepass afirmou que a queda do voo 2283 foi o episódio mais difícil da história da empresa e que, um ano depois, continua solidária às famílias das vítimas e “compartilhando uma dor que permanece presente em nossa memória”.
Confira a nota na íntegra:
“No dia 9 de agosto de 2024, vivemos o episódio mais difícil de nossa história. A queda do voo 2283, na região de Vinhedo (SP), resultou em perdas irreparáveis. Um ano depois, seguimos solidários às famílias das vítimas, compartilhando uma dor que permanece presente em nossa memória. Em mais de 30 anos de operações na aviação brasileira, jamais havíamos enfrentado um acidente.
A tragédia nos impactou profundamente e mobilizou toda a nossa estrutura, humana e institucional, para garantir apoio integral às famílias, nossa prioridade. Nas primeiras horas após o acidente, formamos um comitê de gestão de crise e trouxemos profissionais especializados — psicólogos, equipes de atendimento humanizado, autoridades públicas, seguradoras, além de suporte funerário e logístico.
Temos atuado de forma transparente junto às autoridades públicas e seguimos fortemente dedicados a resolução das questões indenizatórias o quanto antes, neste aspecto com estágio bastante avançado das indenizações restantes. Mantemos o suporte psicológico ativo e continuamos apoiando homenagens realizadas pelas famílias ao longo deste ano. Nos solidarizamos com toda a forma de homenagem às vítimas do acidente.
Sobre a apuração das causas do acidente, reiteramos nossa confiança no trabalho do Cenipa, com o qual temos colaborado desde o início das apurações, e reforçamos que a investigação de um acidente aéreo é um processo complexo, que envolve múltiplos fatores e requer tempo para ser conduzida de forma adequada. Somente o relatório final do Cenipa poderá apontar, de forma conclusiva, as causas do ocorrido.
Cabe lembrar que o relatório preliminar divulgado pelo órgão em setembro de 2024 confirmou que a aeronave do voo 2283 estava com o Certificado de Verificação de Aeronavegabilidade (CVA) válido, e com todos os sistemas requeridos em funcionamento. A atuação da empresa esteve sempre pautada em padrões de segurança internacionais, contando inclusive com a certificação IOSA, um requisito de excelência operacional emitido apenas para empresas auditadas IATA, além de ter o acompanhamento periódico da Anac como agência reguladora. Em três décadas de atuação, em um setor altamente regulado, a segurança dos passageiros e da tripulação sempre foi a prioridade máxima da companhia.
Agimos sempre com responsabilidade, humanidade e empatia. Nossa solidariedade permanece firme e com respeito e sensibilidade a dor dos familiares das vítimas, e com toda a sociedade brasileira.”
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