Neste Dia dos Pais, celebrado em 10 de agosto, a história de Elivaldo Morais, 73 anos, presidente voluntário da Apae [Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais] de Feira de Santana, é um exemplo profundo de amor, acolhimento e superação.
Natural de Santa Bárbara e radicado desde criança em Feira de Santana, senhor Liu, como também é conhecido, vive atualmente entre a sede do município e o distrito de Maria Quitéria (São José).
Ele é pai biológico de dois filhos, Flávia Naiane e Nilo Harrison e pai adotivo de outros seis. Cinco desses filhos têm deficiência: Manoel Sérgio Nascimento, Ademir do Espírito Santo, Marcelino Santos de Jesus, Jurandir de Jesus e Joseval Araújo. A sexta filha adotiva, Andressa Vitória, não possui deficiência. A todos, Elivaldo ofereceu lar, cuidado e dignidade, após experiências de abandono ou vulnerabilidade.
“Eu não cheguei a conhecer meu pai, então o Dia dos Pais para mim tem um sentimento misto: alegria pelos filhos que tenho e tristeza por não ter vivido essa referência paterna. Mas sou imensamente grato pela família que construí”, compartilhou Elivaldo.
Casado há 47 anos, com uma convivência de 55 anos ao lado de sua esposa Miracy de Oliveira Morais, o amor e a dedicação à família sempre foram prioridade. Por muitos anos, Elivaldo também manteve uma chácara com um projeto social que já acolheu cerca de 200 meninos em situação de vulnerabilidade.
Processo de adoção
O processo de adoção nem sempre aconteceu formalmente. Durante sua atuação no passado como diretor da Fazenda do Menor (FAMFS), Elivaldo passou a cuidar de jovens que ficaram desamparados após o fim da instituição.
“Alguns eu herdei da Fundac. Não houve processo formal de adoção, mas obtivemos a curatela solicitada pelo Ministério Público. Como muitos não tinham para onde ir simplesmente eu fiquei com todos eles.”
Elivaldo ajudou a construir casas dentro de um condomínio, onde pôde acolher e acompanhar os jovens mais de perto. Hoje, cinco dos filhos adotivos estudam e recebem atendimento na própria Apae, onde ele atua como presidente voluntário.
As deficiências dos filhos variam entre intelectual e motora, mas, segundo Elivaldo, a rotina da casa foi conduzida com naturalidade.
“A convivência é tranquila. Cada um tem seu jeito, suas necessidades, mas são todos pessoas incríveis, que me ensinam diariamente.”
Ao Acorda Cidade, o presidente da Apae relatou que o maior ensinamento que a paternidade trouxe foi a importância do afeto. “É sempre tratar as pessoas com respeito e amar. E não só amar em silêncio, mas dizer isso. Essas pessoas precisam ouvir que são amadas. Quem ama, cuida e corrige também, quando é preciso.”
O perigo do afastamento emocional
Elivaldo também faz um alerta sobre os riscos das redes sociais no relacionamento entre pais e filhos. “As redes sociais são um perigo. A gente pode se afastar dos filhos, tanto por estarem nelas quanto por nós mesmos. É preciso estar presente, conversar, demonstrar carinho.”
Na visão de seu Liu, a presença familiar é essencial no desenvolvimento de pessoas com deficiência. “A família é tudo. Sem esse apoio, ninguém vai a lugar algum. O afeto, a presença e o cuidado fazem toda a diferença.”
Desafios na instituição
Como presidente da Apae, ele encara os desafios financeiros da instituição com coragem e fé.
“A gente mata um leão por mês. As despesas são altas e manter a estrutura funcionando é uma luta constante. Mas o mais importante é ver que nossos colaboradores tratam todos os assistidos com carinho. E eu convido: visitem a Apae, sem avisar. Aqui não tem maquiagem, o cuidado é real.”
Para quem tem filhos com deficiência ou pensa em adotar, seu Elivaldo deixa uma mensagem inspiradora.
“Se você tiver essa oportunidade, não tenha dúvida de que será muito mais beneficiado do que a criança. É a coisa mais importante que você pode fazer. Se for uma criança com deficiência, melhor ainda.”
Com informações do repórter Ney Silva do Acorda Cidade e do Supervisor de projetos e captação de recursos da Apae Cláudio Rios
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