Carta do Leitor #03: um filho sem nome, uma mãe sem teto, um pai rico e ausente: 44 anos de dor e silêncio

Ivani Ribeiro
Foto: Produzida por I.A

A seção Carta do Leitor nesta semana traz um texto enviado por uma mãe que faz uma reflexão sobre os desafios que o filho sempre enfrentou por não ter sido reconhecido pelo pai biológico. O texto, apesar de muito duro, foi escolhido para ser contado aqui no portal para servir de alerta sobre a importância do reconhecimento da paternidade. A mãe preferiu não ser identificada. Confira abaixo a íntegra da carta.

A carta

De: Uma mãe
Para: Acorda Cidade

Um filho sem nome, uma mãe sem teto, um pai rico e ausente: 44 anos de dor e silêncio

Venho contar uma história real. Uma história de dor, abandono e luta. Em 1980, dei à luz meu filho na cidade de Salvador (BA). Eu era jovem, cheia de sonhos, mas fui deixada sozinha. O pai biológico, um homem de boas condições financeiras, virou as costas quando soube da gravidez.

Enquanto ele seguia sua vida com conforto e recursos, eu fui para as ruas com meu bebê nos braços. Literalmente. Dormi nas calçadas, pedir esmolas para alimentar meu filho, enfrentei o desprezo, o frio e a fome — enquanto o pai, com toda sua riqueza, fingia que nós não existíamos.

Nunca recebemos um centavo. Nunca houve uma visita, uma ligação, uma ajuda. Ele nunca registrou o próprio filho. Nunca quis saber se estávamos vivos ou mortos.

Anos depois, me casei com outro homem que, por bondade, deu seu nome ao meu filho e o registrou. Mas meu filho sempre soube da verdade. E sempre carregou a dor de não ter sido reconhecido pelo homem que lhe deu a vida.

Hoje ele tem 44 anos. Quatro décadas de silêncio e invisibilidade. No final de 2023, com muito esforço, conseguimos encontrar o pai biológico. E o que aconteceu? Mais uma rejeição. Mais uma humilhação. Nenhum pedido de desculpas, nenhum gesto de humanidade.

Meu filho, hoje, vive fragilizado emocionalmente, com traumas profundos, sem estrutura, sem saúde, sem apoio. A dor da rejeição afetou sua mente, sua alma e seu caminho.

Essa não é só a história de um abandono. É a história de uma injustiça. Um pai com dinheiro e poder negou o básico a quem mais precisava. E até hoje, nada foi revisto. Nenhum direito foi reconhecido. Nenhuma reparação foi feita.

Essa é a voz de uma mãe que grita por justiça. Por dignidade.

Ass.: Uma mãe

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O tema é livre; a carta pode ser sobre uma história emocionante, engraçada, de superação, inspiradora, pitoresca ou até um desabafo. O que importa é que seja real e que seja sua.

Como participar

Basta você escrever a sua carta e enviá-la para o e-mail [email protected] e, no campo “Assunto”, coloque Carta do Leitor. Estamos te aguardando.

Você na redação

A “Carta do Leitor” do Acorda Cidade é inspirada na ferramenta textual de mesmo nome, que foi muito popular no auge dos jornais impressos. Esse modelo permitia que leitores emitissem opiniões sobre determinados assuntos por meio de uma carta enviada diretamente à redação do jornal.

Com a evolução das tecnologias, principalmente aquelas voltadas para a comunicação, a ação de “mandar uma carta” foi se tornando menos comum. No entanto, a essência do recurso ainda permanece viva. Por isso, o Acorda Cidade decidiu publicar histórias escritas pelos leitores, homenageando esse espaço como “Carta do Leitor”.

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