O mercado global de celulose vive um período de pressão sobre os preços, impulsionado por um excesso de oferta e incertezas externas que vão além do câmbio. A recente valorização do dólar, que marcou o mês de julho, reacendeu discussões sobre competitividade, riscos e ajustes de estratégia para produtores e exportadores brasileiros.
Em entrevista ao Portal Celulose, Gabriel Fernandez, analista independente do mercado de celulose e papel, explicou que o câmbio, embora relevante, não é o principal fator para definir rumos do setor. “O preço da celulose é regido pelo desequilíbrio entre oferta e demanda, e hoje estamos em uma situação de excesso de oferta”, afirmou. Nesse cenário, a alta do dólar pode até trazer ganhos financeiros no curto prazo para produtores brasileiros, mas “não deveria gerar nenhuma mudança em suas estratégias comerciais”, complementou.
Fernandez observa que a guerra tarifária iniciada pelos Estados Unidos adiciona incertezas, mesmo que a celulose não esteja diretamente na lista de produtos afetados. “O Brasil representa quase 75% da celulose de fibra curta importada pelos EUA, e sua substituição é muito difícil de imaginar, pelo menos no curto e médio prazo. De qualquer forma, esse foi um alerta para os produtores brasileiros: em tempos como estes, um mercado importante como o norte-americano pode mudar no curto prazo”, disse.
EUA PERMANECEM ESTRATÉGICOS
Embora os produtores brasileiros mantenham portfólios diversificados, os Estados Unidos seguem como um destino estratégico tanto em volume quanto em valor. “Os compradores nesse país preferem desenvolver relações de longo prazo em vez de comprar no mercado spot”, destacou Fernandez, ressaltando que mudanças bruscas no cenário comercial americano levariam empresas a reavaliar planejamentos, mas sem romper a importância do mercado.
COMPETITIVIDADE E DESAFIOS
Na comparação global, o Brasil e outros países da América Latina mantêm vantagens competitivas no segmento de celulose de fibra curta. Entre os fatores, o analista cita o custo local em reais, a disponibilidade de terras para novos plantios, a mão de obra qualificada, o manejo florestal e a eficiência do eucalipto. “A Indonésia tem custos menores, é verdade, mas menos produtores e um nível menor de certificações ambientais do que a região da América do Sul”, disse.
No entanto, ele alerta que a valorização do dólar pode afetar investimentos que dependem de insumos importados ou de financiamento externo. “Se o dólar se mantiver elevado por um período prolongado, é possível que alguns projetos sejam adiados, especialmente os que exigem maquinário importado. Por outro lado, isso pode incentivar o desenvolvimento de tecnologia no Brasil”, avaliou.
O QUE ACOMPANHAR NOS PRÓXIMOS MESES
Para Fernandez, será importante observar a evolução da capacidade produtiva de celulose no cenário global e o movimento dos estoques dos compradores, atualmente em níveis baixos. A recomposição desses estoques, segundo ele, pode ajudar na recuperação de preços quando as incertezas geopolíticas se dissiparem.
Encerrando, o analista salientou a importância da proximidade entre fornecedores e clientes para manter competitividade e agilidade diante de mudanças repentinas. “Continuar trabalhando na relação entre produtores e compradores de celulose, já que qualquer mudança inesperada pode afetar a cadeia de suprimentos, e a flexibilidade e capacidade de reação rápida serão fundamentais. Ter o cliente e/ou o fornecedor por perto ajudará a enfrentar esses momentos desafiadores e alcançar melhores resultados. Hoje são as tarifas e o dólar, mas nossa indústria sempre terá desafios — alguns que podemos controlar e outros não”, concluiu.

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