Cuba reafirma que manterá missões médicas no exterior apesar das sanções dos EUA

O governo cubano reafirmou que suas missões médicas no exterior continuarão funcionando, apesar das novas sanções anunciadas pelos Estados Unidos.

Por meio de sua conta oficial no X, o chanceler Bruno Rodríguez afirmou que a ilha “continuará prestando serviços” e destacou que esses programas são “iniciativas legítimas de cooperação”. Além disso, classificou as medidas estadunidenses como uma demonstração de que “a imposição e a agressão são a nova doutrina da política externa” dos EUA sob a administração republicana do ex-presidente Donald Trump.

Mais de 24 mil profissionais de saúde cubanos oferecem atendimento médico em quase 60 países. Esse trabalho solidário faz parte de uma política adotada após a vitória da Revolução Cubana, que transformou a cooperação médica em um pilar fundamental da política externa da ilha caribenha.

Durante décadas, Cuba chegou a enviar mais médicos para o exterior do que a própria Organização Mundial da Saúde (OMS). Na maioria dos casos, a ajuda é oferecida de forma solidária, sem contrapartida financeira, especialmente em países com menos recursos.

Nos últimos dez anos, Cuba passou a receber uma compensação econômica pelos serviços médicos prestados em países com melhores condições econômicas, que podem arcar com os custos. Os médicos cubanos que participam dessas missões recebem um estipêndio local – superior ao salário que recebem na ilha – ao mesmo tempo em que mantêm seus vencimentos em Cuba.

A participação nas brigadas médicas é voluntária, garantindo que cada profissional decida livremente integrar essas missões. Parte do pagamento do país anfitrião é destinada diretamente ao sistema de saúde cubano, contribuindo para sua manutenção e desenvolvimento em um contexto marcado pelas limitações do bloqueio.

A resposta de Havana ocorreu após o anúncio do secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, sobre uma nova rodada de sanções contra funcionários de países africanos – sem especificar quais – assim como do Brasil e da ilha caribenha de Granada, que tenham facilitado a contratação dos serviços médicos cubanos.

Em um comunicado oficial, Rubio justificou a decisão alegando que o Departamento de Estado age contra “funcionários cúmplices do regime cubano” envolvidos na organização e manutenção das brigadas.

As sanções atingiram ex-funcionários da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) e autoridades brasileiras vinculadas ao programa Mais Médicos. O anúncio destacou que a medida busca enviar uma mensagem a todos os governos que contratam esses serviços. “Fazemos um apelo a todas as nações que defendem a democracia e os direitos humanos para que se unam a nós nesse esforço de enfrentar os abusos do regime cubano e apoiar o povo cubano”, indicou o texto.

Reações do Brasil

Em resposta às sanções contra funcionários brasileiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou, nesta quinta-feira (14), o bloqueio dos Estados Unidos contra Cuba e defendeu o programa Mais Médicos.

Lula declarou, durante um evento em Goiana (PE), que “é importante que saibam que nossa relação com Cuba é uma relação de respeito a um povo que tem sido vítima de um bloqueio por 70 anos”.

Ao mesmo tempo, denunciou o impacto do bloqueio sobre o povo cubano, afirmando que “hoje estão passando necessidades em um bloqueio que não tem nenhuma justificativa. Os Estados Unidos fizeram uma guerra, perderam. Aceitem que perderam e deixem que os cubanos vivam em paz, que vivam suas vidas. Não continuem querendo mandar no mundo”.

Suas declarações se somam às do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, que qualificou as sanções como um “ataque injustificável” a um programa que “salva vidas”. Padilha destacou que o Mais Médicos contou, durante anos, com a participação de milhares de médicos cubanos, que prestaram serviços em regiões onde os profissionais brasileiros costumam evitar trabalhar devido a condições difíceis e à falta de infraestrutura.

Em uma extensa mensagem publicada na rede social X, o ministro afirmou que o Brasil não se dobrará diante de “quem persegue vacinas, pesquisadores, a ciência e agora duas das pessoas-chave por trás do Mais Médicos no meu primeiro mandato como ministro da Saúde: Mozart Sales e Alberto Kleiman”.

Um emblema da cooperação internacional

Há mais de meio século, Cuba desenvolve um amplo programa de cooperação médica que se tornou um emblema internacional. Brigadas médicas cubanas já atuaram respondendo tanto a desastres naturais quanto a crises de saúde.

Além disso, Cuba criou um extenso programa de formação médica para jovens de comunidades vulneráveis de diversos países. Por meio da Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), mais de 73 mil estudantes estrangeiros se formaram em medicina com o objetivo de contribuir em suas comunidades.

A cooperação médica cubana também incluiu ajuda para o desenvolvimento de sistemas de saúde em países como Argélia, Haiti e Venezuela. Somente no Haiti, mais de 6 milmédicos cubanos realizaram 36 milhões de consultas e salvaram cerca de 429 mil vidas desde 1998.

Em 2005, foi criado o Contingente Internacional Henry Reeve, especializado na resposta a desastres e epidemias. Esse grupo participou do combate ao ebola na África Ocidental, na assistência a vítimas de terremotos e furacões e no atendimento à pandemia de covid-19 em mais de 20 países.

Além disso, programas como a Operação Milagre permitiram que mais de 4 milhões de pessoas em 34 países recuperassem a visão de forma gratuita, reforçando a projeção internacional da medicina cubana como ferramenta de diplomacia e solidariedade.

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