
A história de Molly Kochan não segue o roteiro que muitos esperariam diante de um diagnóstico terminal. Em vez de se recolher ou viver seus últimos anos de forma convencional, ela optou por um caminho radical, que até hoje desperta curiosidade e debates.
Molly nasceu e cresceu em Los Angeles, onde construiu sua carreira como podcaster, blogueira e escritora. Aos 33 anos, começou a sentir dores durante relações sexuais e encontrou um nódulo no seio. Procurou ajuda médica, mas recebeu a resposta de que era “muito jovem” para se preocupar com câncer de mama. Seis anos depois, descobriu que a doença não só estava presente, como já havia se espalhado para os ossos, cérebro, fígado e linfonodos.
A partir desse diagnóstico devastador, Molly passou por tratamentos agressivos: mastectomia dupla, sessões de quimioterapia e radioterapia. Ainda assim, o câncer já estava em estágio avançado, sem possibilidade de cura. Consciente de que vivia com tempo limitado, decidiu transformar sua vida por completo.

Molly Kochan tinha uma lista de desejos bastante incomum para realizar antes de falecer (Instagram/@nikkiboyer)
Até 2016, Molly era casada há mais de uma década. Ela e o marido chegaram a buscar terapia de casal para lidar com problemas antigos na relação, especialmente no âmbito sexual. De acordo com seus relatos, havia afeto entre eles, mas também muito estresse e dificuldades. A situação se agravou com o comportamento controlador do parceiro e com o fato de que, diante da doença, Molly se sentia cada vez mais “desligada” da própria vida.
Nesse contexto, ela decidiu se separar e iniciar um novo capítulo. Em vez de se entregar ao desespero, resolveu experimentar tudo o que tivesse vontade, sem se preocupar com julgamentos externos. Um dos pontos centrais dessa nova fase foi o sexo.
Molly descobriu que os medicamentos hormonais que deveria tomar para reduzir seu desejo sexual causaram o efeito contrário. Ela passou a sentir libido intensa e viu nisso uma oportunidade. Entre a busca por prazer, a vontade de se distrair da rotina de hospital e a necessidade de entender o que realmente gostava, ela se lançou em encontros casuais. Ao longo de pouco tempo, contabilizou 183 parceiros sexuais. Depois desse número, parou de contar, o que indica que o total pode ter sido ainda maior.
A aventura sexual virou parte de sua identidade pública. Molly começou a escrever sobre suas experiências em seu blog e também no podcast criado com sua melhor amiga, Nikki Boyer. A franqueza com que falava de sexo, doença e morte atraiu a atenção de milhares de ouvintes, transformando sua trajetória em um relato único sobre prazer e liberdade em meio à dor.

Molly e sua melhor amiga Nikki Boyer criaram um podcast para eternizar suas aventuras sexuais (Instagram/@nikkiboyer)
Em entrevistas, ela explicou que nunca tinha se permitido viver dessa forma antes. Costumava se preocupar demais com o que os outros pensavam e sofria por rejeições ou opiniões alheias. Com o câncer, esse peso desapareceu. Para ela, as pessoas entravam e saíam de sua vida em momentos determinados, e não fazia sentido carregar ressentimentos. Essa nova perspectiva também influenciou sua forma de lidar com encontros amorosos: se alguém não se interessava, simplesmente não importava.
O impacto de sua história cresceu após sua morte em março de 2019, aos 45 anos. Pouco antes de falecer, escreveu um último texto no qual descreveu seus últimos dias. Disse que não tinha grandes lições de vida para compartilhar, apenas a certeza de ter encontrado alegria no caminho que escolheu. Afirmou ainda que estava rodeada das pessoas que realmente importavam, mesmo que sua despedida tivesse de ser “pequena e contida”, como um barco que se afasta do cais sem espaço para mais ninguém embarcar.
Anos depois, a vida de Molly ganhou uma adaptação televisiva. A minissérie “Dying For Sex”, exibida pelo Hulu, apresentou sua história a um público ainda maior. A atriz Michelle Williams, indicada ao Oscar, interpretou Molly e relatou que a experiência a fez compreender de forma profunda a coragem que a podcaster demonstrou diante do pior diagnóstico possível. Para Williams, o que impressionava não era apenas a ousadia de Molly em buscar prazer, mas a forma como transformou sofrimento em criatividade, humor e liberdade.
Mesmo com uma trajetória marcada por procedimentos médicos dolorosos, prognósticos sombrios e a certeza da morte iminente, Molly viveu seus últimos anos de uma forma singular. Sua vida se tornou um registro de escolhas pouco convencionais, contadas em detalhes em textos, gravações e, posteriormente, na televisão.
Essa narrativa permanece viva porque une temas que muitas vezes são tratados separadamente: a luta contra o câncer, o direito ao prazer, a independência feminina e a forma como cada pessoa encara a própria mortalidade. A história de Molly Kochan continua sendo revisitada justamente por esse contraste entre dor e libertação, doença e desejo, fim e intensidade.
Esse Mulher diagnosticada com câncer terminal se separa do marido e dorme com quase 200 homens foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.