Para preservar cultura ameaçada, escola no Benin ensina língua materna do povo Adja

No sudoeste do Benin, na África do Oeste, uma pequena escola realiza um importante trabalho pela salvaguarda cultural. Criado em 2014 na comuna de Kloukname, na fronteira do Benin com o Togo, o centro de ensino Saint Salomon é um dos poucos no país a ensinar uma língua materna em sala de aula. Ali, os 85 estudantes aprendem o adja, como uma forma de contrariar a herança colonial que prioriza apenas a língua francesa. A experiência da comunidade é retratada no Bem Viver, programa do Brasil de Fato deste sábado (23).

“A língua é a cultura. Não se pode ser tradicional numa língua destruída”, diz o estudante Ninivi Anicet. “Tudo o que fazemos, fazemos na nossa língua e é assim que se faz”.

O povo adja é conhecido por ser a cultura mãe do antigo Reino do Daomé, um poderoso estado da África Ocidental que existiu de 1600 até 1894, quando foi invadido e transformado em colônia pela França.

Ao incorporar Daomé na África Ocidental Francesa, os europeus passaram a controlar oito colônias na África do Oeste, uma área equivalente a oito vezes o tamanho da própria França. Essa expansão colonial foi acompanhada por uma política de apagamento das identidades religiosas, culturais e linguísticas dos povos da região, que não foi abalada nem pelos movimentos de independência da década de 1960.

“Hoje, há certos lares em que nossos irmãos falam francês, apenas francês, com seus filhos em casa. Mas isso me deixa doente quando fico sabendo”, lamenta Davito Roger, diretor da escola. “É como se só falando francês somos importantes. Quando não falamos francês, somos pequenos. É uma herança da colonização que muitos não compreenderam e mergulham de cabeça nela. Foi a colonização francesa que fez isso”, diz.

O Benin possui mais de 70 idiomas nacionais, mas toda essa diversidade linguística não é apresentada nas escolas. A língua oficial é a francesa, que alcança 35% da população do país, e é um pré-requisito obrigatório nas universidades e em ofertas de emprego. O adja é falado por cerca de 1,3 milhões de pessoas em toda a África do Oeste e pertence ao grupo das línguas Gbe, junto com o Ewe e o Fon.

‘A língua é indispensável’

Na escola Saint Salomon, que atende crianças de 6 aos 13 anos, o professor Alain Mathias Atcho estimula a brincadeira e usa um modelo bilíngue na sala de aula. Até o conteúdo no quadro é dividido nas duas línguas, o francês e o adja.

“Se for alguma criança que conhece a língua francesa, e por exemplo, fala “bom dia”, eu faço o gesto com a mão e me expresso em adja para cumprimentá-la. É assim que funciona. E as coisas que mostro no quadro também traduzo automaticamente para o Adja. Isso ajuda a evoluir”, conta o educador.

A estudante Kohoke prefere falar a língua materna a se comunicar em um idioma “que não nos pertence”. “Porque hoje em dia, no Benim, se, por exemplo, você estiver em uma localidade ou em um lugar com pessoas que estão falando sua língua materna e você não entender o que elas estão dizendo, isso é uma chatice. Porque nas nossas escolas, aprendemos apenas francês, só francês”, explica.

Lousa é dividida entre frânces e adja para reforçar a importância da língua materna. | Foto: Pedro Stropassolas

Kohoke destaca outro aspecto importante da escola Saint Salomon: o trabalho de alfabetizar crianças que não tiveram a oportunidade de aprender a língua materna em casa.

“Você pode falar em casa com seus pais se você tiver essa sorte. Mas se você não tiver, se não tiver ficado na casa dos seus pais, falar a língua materna é um pouco difícil”.

“É uma forma de dominação. Eles sabem muito bem que a língua é indispensável. Os países que se desenvolveram, desenvolveram-se na sua língua. Portanto, se alguém não consegue falar a sua língua, está perdido”, alerta o diretor da escola.

Ele aponta para a necessidade de uma mudança radical na política educacional do governo do presidente Patrice Talon, que inclua a difusão do ensino das línguas maternas nas escolas primárias.

“Se o Estado quisesse dar o bom exemplo, deveria começar por nos ajudar aqui, seguir o nosso exemplo e multiplicá-lo pelo país. Eles sabem disso, mas não querem”, diz.

Assista:

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Na TV Floripa: sábado às 13h30, reprises ao longo da programação, no canal 12 da NET. 

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