O cientista político e professor Paulo Roberto de Souza avalia que, com o avanço dos julgamentos relacionados à tentativa de golpe de 8 de janeiro no Supremo Tribunal Federal (STF), a tendência é de intensificação do discurso da extrema direita brasileira em tom de perseguição. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, nesta segunda-feira (25), ele caracterizou as reações do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e aliados como “histeria”.
“Entramos agora no ‘esquenta’ dos julgamentos. Vamos ter nesse momento, com certeza, um aumento do tom de histeria de boa parte dos principais apoiadores do Bolsonaro, tanto no Congresso quanto na sociedade civil, principalmente [em relação ao] caso do [pastor evangélico] Silas Malafaia. (…) A tendência é que, nesses próximos dias, até o início dos julgamentos, o discurso da extrema direita se intensifique no sentido de que há uma perseguição, principalmente por parte do [ministro] Alexandre de Moraes”, diz.
Na última semana, a Polícia Federal realizou buscas e apreensões envolvendo aliados de Bolsonaro. Entre eles está Malafaia, conhecido por seu papel como influenciador político da extrema direita e próximo do ex-presidente, que teve o celular e passaporte apreendidos. Além disso, Bolsonaro e o filho dele, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-RJ) foram indiciados por coação e tentativa de golpe.
Segundo Souza, os indícios contra Bolsonaro e aliados reforçam a percepção de culpa do ex-presidente. “Tudo indica que ele sabia e que ele tem, muito mais na opinião pública do que propriamente no julgamento, uma manifestação de culpa, de responsabilidade nesse processo, ao ponto de não querer também enfrentar o julgamento e pedir asilo político”, afirma.
Atualmente em prisão domiciliar, o ex-presidente teria redigido uma carta, em 2024, com um pedido de asilo político destinado a Javier Milei, presidente da Argentina. O documento foi identificado pela Polícia Federal (PF) durante buscas, na última semana.
Em relação ao ex-ministro Walter Braga Netto, que permanece preso por descumprimento de medidas cautelares relacionadas à investigação sobre a tentativa de golpe, Souza avalia que o militar é um dos “mais implicados” na tentativa de golpe. “Braga Netto sem dúvida (…) é provavelmente um dos mais implicados nessa tentativa de golpe, e com certeza ele não vai escapar de uma condenação”, comenta.
Tarcísio de Freitas e o futuro da extrema direita
Souza aponta que, diante de possíveis condenações de Bolsonaro, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), desponta como o nome mais competitivo do campo bolsonarista para 2026. “Tarcísio, não vamos nos enganar, é um bolsonarista. Mas há um esforço, principalmente pela figura do centrão paulista, em transformar o Tarcísio em um Bolsonaro que usa talheres”, diz. O objetivo, segundo o cientista político, é equilibrar lealdade à base bolsonarista e apelo eleitoral a setores centristas.
Recentemente, uma pesquisa da Genial/Quaest revelou que a aprovação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu para 46% em agosto, após um período de queda. Esse aumento na popularidade do presidente pode impactar diretamente as estratégias eleitorais de Tarcísio, analisa o cientista político.
“Quando a aprovação do Lula estava em queda, aparecia, então, um Tarcísio mais equilibrado. Agora, nesse momento, com o Lula em alta, que é consequência também, não só das atividades da extrema direita no Brasil, mas do tarifaço do [presidente dos Estados Unidos, Donald] Trump, ele tende mais ao seu berço, à sua alma mater, que é o bolsonarismo. E isso é muito difícil de equilibrar”, afirma Souza.
O professor acredita que os próximos seis meses serão decisivos para a definição do cenário eleitoral. “A construção de uma candidatura à presidência não é algo muito simples de se fazer. Então, Tarcísio, ou seja quem for desses possíveis candidatos, precisa entrar no ano que vem como um pré-candidato”, explica.
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