
A chamada “língua presa” — termo popular para a anquiloglossia é uma condição em que a membrana que conecta a língua ao assoalho da boca, denominado frênulo lingual, é curta, grossa ou rígida, limitando a movimentação da língua.
Embora pareça um detalhe anatômico simples, essa alteração pode impactar diretamente a alimentação, o desenvolvimento da fala e até a respiração do bebê ou da criança. Por isso, muitos pais se perguntam: qual é o momento ideal para avaliar se meu filho tem língua presa?
O que é a língua presa
A anquiloglossia ocorre quando o frênulo lingual está encurtado ou apresenta alterações que restringem os movimentos naturais da língua. Em graus variados, isso pode impedir que a criança projete a língua para fora da boca, eleve-a até o palato (céu da boca) ou realize os movimentos essenciais para sugar, mastigar e articular sons.
A gravidade da condição pode variar muito: alguns bebês com língua presa conseguem se adaptar bem, enquanto outros apresentam dificuldades claras desde os primeiros dias de vida.
Como é o teste da linguinha?
O teste da linguinha é um exame simples e obrigatório no Brasil, instituído por lei desde 2014, e deve ser realizado nas primeiras 48 horas de vida do bebê, ainda na maternidade. Ele é feito por profissionais habilitados, como otorrinolaringologistas, fonoaudiólogos ou pediatras treinados, e serve para identificar possíveis alterações no frênulo lingual que possam interferir na amamentação.
Durante o teste, o profissional observa:
- O formato e inserção do frênulo;
- A movimentação da língua durante o choro e a sucção;
- A capacidade do bebê de sugar e manter a pega correta no seio materno.
Caso seja identificada uma alteração importante, o bebê pode ser encaminhado para avaliação mais aprofundada e, se necessário, para uma intervenção precoce, como a frenotomia, que consiste na realização de um pequeno corte do frênulo, para dar mais mobilidade à língua.
Diagnóstico e correção precoce
Detectar e tratar a anquiloglossia logo nos primeiros dias de vida pode evitar uma série de complicações. Entre os problemas mais comuns associados à língua presa não diagnosticada estão:
- Dificuldades na amamentação, como pega fraca, dor no seio materno, baixa transferência de leite;
- Baixo ganho de peso do bebê;
- Engasgos e regurgitações;
- Alterações no padrão de respiração, com respiração bucal;
- Dificuldades na introdução alimentar;
- Atrasos ou alterações na fala.
Muitas vezes, a correção precoce permite que o bebê mame melhor, cresça com mais saúde e se desenvolva sem necessidade de tratamentos futuros mais complexos.
Como identificar anquiloglossia tardia
É possível que algumas formas mais leves de anquiloglossia não sejam identificadas logo no nascimento, ou que os sintomas surjam mais tarde, à medida que a criança se desenvolve. Nestes casos, novos sinais podem surgir em diferentes fases da infância, e merecem atenção dos pais e cuidadores.
Os bebês podem apresentar choro excessivo durante ou após as mamadas, dificuldade para manter a pega ou esvaziar o seio materno, baixo ganho de peso ou regurgitações frequentes.
Nas crianças um pouco maiores podemos observar dificuldade para mastigar alimentos sólidos, recusa alimentar, babeira constante ou respiração bucal.
Nas crianças em idade de fala pode ocorrer atraso no início da fala, dificuldade para pronunciar certos sons (principalmente “r”, “l”, “t”, “d” e “n”), característica de fala “embolada” ou frustração ao se comunicar.
Em qualquer dessas fases, se houver suspeita de que a língua não está se movimentando adequadamente, a avaliação especializada deve ser realizada o quanto antes.
O diagnóstico de anquiloglossia é clínico, ou seja, depende da observação do profissional durante o exame físico e da análise do impacto funcional que a língua presa está provocando.
Tratamento
O tratamento dependerá da gravidade do caso. Os casos leves, podem ser acompanhados com exercícios e orientações. Casos moderados a graves, com impacto na amamentação, fala ou alimentação, podem exigir a frenotomia, procedimento simples, feito em consultório ou hospital, especialmente em bebês pequenos.
O acompanhamento e terapia com fonoaudiólogo pode ser necessário após o procedimento, para garantir que a criança reaprenda os movimentos da língua de forma eficaz.
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Portanto, o melhor momento para avaliar a língua presa é o mais cedo possível. Idealmente, ainda na maternidade, com o teste da linguinha. No entanto, é importante lembrar que a avaliação não deve se limitar a esse momento. Sempre que houver sinais de que algo não vai bem na amamentação, alimentação ou fala, uma nova avaliação deve ser feita.
Pais atentos fazem toda a diferença no desenvolvimento da criança. Se você percebe algo diferente na forma como seu filho mama, come ou fala, não hesite em buscar ajuda profissional. Um gesto simples, como avaliar o frênulo da língua no tempo certo, pode garantir um desenvolvimento mais saudável e uma infância com menos barreiras de comunicação.