
“Teve um apagão na Europa? Será que é o fim do mundo? Será que o Sol explodiu? Ou foi o espírito do Papa?”.
Com bom humor, o geofísico e divulgador científico Sérgio Sacani começou assim sua explicação sobre o blecaute que deixou milhões de pessoas sem energia em países como Portugal, Espanha e França na segunda-feira (28).
Em um episódio do “Sacani Responde”, gravado nos estúdios do Flow Podcast, ele destacou uma hipótese técnica que pode ajudar a entender o que aconteceu: a ressonância em cabos de alta tensão.
LEIA TAMBÉM:
- Portugal e Espanha enfrentam apagão de grandes proporções
- Capixabas na Europa relatam “caos” com apagão: comércio fechado e estoque de comida
- Motorista atropela multidão e mata 9 pessoas em festival de rua no Canadá
O fenômeno, segundo Sacani, ocorre quando dois fatores, a capacitância, que é o efeito elétrico entre o cabo e o solo, e a indutância, que está ligada ao campo magnético ao redor do condutor, entram em equilíbrio num tipo específico de circuito chamado LC.
Se essa combinação entra em frequência de ressonância, podem surgir picos de corrente e tensão tão intensos que danificam o isolamento dos cabos, provocando falhas e até apagões generalizados.
Essas coisas parecem invisíveis, mas podem derrubar uma rede elétrica inteira. É como se fosse uma sinfonia mal tocada entre os cabos e a terra, comparou o geofísico.
De acordo com especialistas europeus, oscilações nas linhas de transmissão potencialmente provocadas por condições atmosféricas raras já são uma das principais linhas de investigação do apagão que atingiu países da Península Ibérica e parte da França.
A hipótese de que pequenas vibrações em grandes redes interligadas podem ter desencadeado o colapso está alinhada com a explicação dada por Sacani.
O cientista ainda reforça que evitar esse tipo de falha exige dimensionamento técnico rigoroso, filtros e reatores específicos, o que pode ser um desafio diante de redes tão complexas e interdependentes como a da Europa.
A investigação oficial sobre a origem exata do apagão segue em andamento. Mas uma coisa ficou clara no episódio do podcast: até um fenômeno invisível pode ter força suficiente para paralisar um continente inteiro.
Veja o vídeo:
*Texto sob a supervisão da editora Erika Santos