A confirmação da prisão domiciliar da ex-presidenta argentina Cristina Fernández de Kirchner provocou uma nova onda de mobilizações na Argentina. Após reunião com governadores e dirigentes do Partido Justicialista (PJ), setores do peronismo decidiram antecipar para esta quarta-feira (18) um ato nacional para a Praça de Maio, em Buenos Aires, em repúdio à decisão judicial.
O protesto, que inicialmente ocorreria em frente ao tribunal de Comodoro Py, será realizado às 14h, em frente à Casa Rosada, sede do governo argentino. Entre os que convocam a manifestação estão sindicatos das centrais CGT, CTA dos Trabalhadores e CTA Autônoma, além de organizações populares de várias províncias.

Repressão e tentativa de desmobilização
A mudança de local foi decidida após o juiz Jorge Gorini, do Tribunal Oral Criminal Federal nº 2, conceder prisão domiciliar a Cristina. A medida prevê uma série de restrições, como permanência obrigatória em sua casa no bairro Constitución, em Buenos Aires, além de controle de visitas e uso de monitoramento eletrônico.
A decisão ocorre após uma semana de vigília permanente de militantes em frente à residência da ex-presidenta e foi interpretada por analistas e dirigentes como tentativa de conter a mobilização social. Para aliados de Cristina, o governo de Javier Milei atuou indiretamente para viabilizar a concessão do benefício.
Segundo a imprensa argentina, a Casa Rosada temia as imagens de uma multidão acompanhando a ida de Kirchner ao tribunal. No domingo (15), o chefe da Casa Civil, Guillermo Francos, chegou a afirmar que “seria lógico que Cristina não precisasse ir ao tribunal”.
Em nota, a Confederação Geral do Trabalho (CGT) afirmou que a mobilização tem como objetivo repudiar a “punição injusta” de Cristina Kirchner e defender a democracia. “As trabalhadoras e os trabalhadores têm memória e vão às ruas”, diz o texto.
A Associação de Trabalhadores do Estado (ATE) também confirmou adesão à marcha e convocou uma paralisação nacional de 24 horas. O secretário-geral da entidade, Rodolfo Aguiar, declarou que “frente à confirmação da prisão domiciliar da ex-presidenta, ratificamos nossa medida de força. Sempre foi em defesa da democracia, e a democracia segue ferida de morte”.
Contexto de tensão institucional
Cristina Kirchner, que governou a Argentina entre 2007 e 2015, enfrenta um processo acusado de suposta corrupção em obras públicas. Sua defesa alega que o julgamento é parte de uma perseguição política e lembra que a ex-presidenta sofreu uma tentativa de atentado em 2022, além de contar com escolta permanente por sua condição de ex-chefe de Estado.
O advogado da ex-presidenta, Carlos Beraldi, argumenta que mantê-la presa em regime fechado violaria normas internacionais de direitos humanos. Ainda assim, os procuradores do caso, Diego Luciani e Sergio Mola, se opuseram ao benefício. Ambos têm vínculos públicos com o ex-presidente Mauricio Macri, adversário político de Cristina.
Segundo o Código Penal argentino, a prisão domiciliar pode ser concedida a pessoas com mais de 70 anos, mas não é obrigatória. Apesar disso, atualmente não há mulheres nessa faixa etária cumprindo pena em regime fechado no país.
A decisão do tribunal é vista como parte de um clima de tensão política e institucional crescente, marcado por ações repressivas autorizadas pelo governo Milei, como revistas e detenções sem ordem judicial em manifestações populares.
*Com informações do jornal El Tiempo Argentino
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