
Imagine um canal marítimo tão estreito que, em certos pontos, mal ultrapassa 33 quilômetros de largura. Agora, imagine que por essa passagem apertada circula diariamente um volume gigantesco de petróleo – algo entre 17,8 e 20,8 milhões de barris.
Esse lugar existe e se chama Estreito de Ormuz, uma faixa de água crucial entre o Irã e Omã que conecta o Golfo Pérsico ao Golfo de Omã e, finalmente, ao Mar da Arábia. Ele não é apenas uma rota; é a principal artéria para o fornecimento global de petróleo.
Por que isso é tão importante? Porque aproximadamente um quinto de todo o petróleo consumido no planeta passa por ali. Países gigantes na produção de energia, como Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Kuwait e Iraque – todos membros influentes da OPEP – dependem fortemente desse corredor para escoar suas exportações, especialmente para os mercados asiáticos. Até o Catar, um líder mundial na exportação de gás natural liquefeito, envia quase toda a sua produção através de Ormuz.
Recentemente, esse ponto vital voltou a ser o centro de tensões globais. O conflito entre Israel e Irã, agravado pela entrada dos Estados Unidos após ataques a instalações nucleares iranianas, reacendeu um temor antigo: a possibilidade de o Irã cumprir ameaças recorrentes e bloquear o estreito.
O Parlamento iraniano chegou a aprovar uma medida para esse fechamento, apresentada como retaliação aos ataques norte-americanos. Embora essa decisão ainda precise da chancela do Conselho Supremo de Segurança Nacional e do Aiatolá Khamenei para se tornar realidade, o simples anúncio foi suficiente para sacudir os mercados.

Estreito de Ormuz
O impacto econômico de um bloqueio seria imediato e profundo. Especialistas do setor energético, como Rob Thummel da Tortoise Capital, alertam que uma interrupção no fluxo por Ormuz poderia fazer o preço do barril de petróleo disparar para a casa dos 100 dólares rapidamente.
Análises do banco JPMorgan apontam para cenários ainda mais extremos, com preços potencialmente atingindo de 120 a 130 dólares por barril, caso o fechamento ocorra ou se houver retaliações coordenadas de grandes produtores. Já sentimos um gosto desse impacto: logo no início das hostilidades recentes, o preço do petróleo Brent, referência global, saltou mais de 13% em uma semana, enquanto o WTI, referência nos EUA, subiu quase 11%.
A Agência Internacional de Energia (AIE) reforça essa preocupação, destacando em relatório recente que mesmo um fechamento limitado no tempo teria “um impacto importante” nos mercados globais de petróleo e gás natural. Não é apenas sobre o preço na bomba de combustível; é sobre a estabilidade da economia mundial. O estreito é considerado absolutamente essencial para o funcionamento das cadeias de abastecimento globais.
Diante dessa vulnerabilidade, alguns países já buscam alternativas. Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita, por exemplo, investem em rotas alternativas para reduzir sua dependência de Ormuz. Existe uma capacidade ociosa estimada em cerca de 2,6 milhões de barris por dia nos oleodutos da região que poderiam, teoricamente, ser usados para desviar parte do fluxo. No entanto, essa capacidade está longe de substituir o volume colossal que transita diariamente pelo estreito.
A segurança da navegação em Ormuz é tradicionalmente uma responsabilidade da 5ª Frota da Marinha dos Estados Unidos, sediada no Bahrein. Agências marítimas já emitiram alertas para navios petroleiros redobrarem a cautela na área.
O fantasma de um bloqueio, embora nunca concretizado nas ameaças passadas do Irã (como em 2019, após a saída dos EUA do acordo nuclear), parece mais tangível hoje. A geografia apertada de Ormuz, com canais de navegação de apenas 3 quilômetros de largura em cada sentido, torna o controle sobre ele uma arma geopolítica poderosa. O mundo acompanha com atenção se essa artéria vital permanecerá aberta.
Esse Estreito de Ormuz: por que ele causa tanto medo na guerra entre Irã e Israel foi publicado primeiro no Misterios do Mundo. Cópias não são autorizadas.