A dois dias da eleição interna do Partido dos Trabalhadores, que vai definir as novas direções municipais, estaduais e a presidência nacional da sigla, o ex-presidente do partido José Genoino afirmou que o momento é decisivo para definir os rumos do PT no Brasil pós-Lula. Em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato, o ex-deputado declarou apoio à candidatura de Rui Falcão e criticou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por apoiar Edinho Silva, ex-prefeito de Araraquara (SP), na disputa.
“Lula deveria estar se posicionando como magistrado, e não definir apoio a um candidato”, diz. “Foi uma escolha equivocada. Estão usando a máquina política, o prestígio do Lula para fortalecer uma candidatura oficial”, critica. Segundo Genoino, o apoio do presidente da República mexeu com os debates internos e desrespeita a pluralidade histórica do partido. “O PT não aceita voto cabresto, condicionado, esse tipo de rolo compressor”, afirma.
Para Genoino, o deputado Rui Falcão (PT-SP) é “o nome certo, no momento certo, para o lugar certo”. Ele defende que o também ex-presidente do PT tem “capacidade de repactuar o PT fazendo esse giro à esquerda”, o que, segundo ele, o partido precisa protagonizar. “É fundamental que o PT se capacite politicamente para contribuir de maneira autônoma, crítica e articulada, ocupando as ruas e exigindo uma inflexão do governo Lula à esquerda”, opina.
Entre as pautas prioritárias citadas por Genoino estão o enfrentamento ao centrão no Congresso Nacional, o fim da escala 6×1 (jornada na qual o trabalhador tem apenas um dia de folga na semana), a taxação dos super-ricos, a revogação da reforma administrativa e a defesa dos tetos constitucionais para saúde, educação e programas sociais.
A eleição interna do PT acontece neste domingo (6), das 9h às 17h, e os votos serão secretos. Genoino sustenta que a realização de um segundo turno é essencial para amadurecer o debate sobre os rumos do partido. “Queremos um debate mais politizado, mais polarizado. Isso engrandece, fortalece o PT, ajuda a formação do partido, e é bom para o país”, justifica. “Quando a esquerda se acomoda, perde o sentido de ser transformadora. Não podemos abrir mão das nossas causas e das grandes motivações que nos guiam”, conclui.
“Pós-Lula é o PT”
Questionado sobre os rumos do partido após a presidência de Lula, Genoino declara que esse debate só pode ser feito se o PT se fortalecer como ator político independente. “O pós-Lula é o PT capacitado para cumprir sua tarefa histórica. Um PT contra a ordem capitalista, que é socialista, de luta e dá voz à base do PT e aos filiados, que constrói a caminhada da esperança”, resume. Ele argumenta que o partido não pode se acomodar em uma lógica pragmática e de conciliação. “Temos que ser uma esquerda da rebeldia democrática para defender os interesses da classe trabalhadora e do povo”, aponta.
O ex-presidente do partido faz um paralelo com o que ocorreu na Itália, onde a perda de identidade da esquerda e o esvaziamento do Partido Comunista resultaram na irrelevância política do campo progressista. “Se o PT continuar rebaixado na defensiva, a esquerda se pulveriza. Isso não é bom para o país, nem para o governo Lula e o nosso programa de transformação”, alerta. “O fortalecimento do PT vai contribuir para o fortalecimento da unidade da esquerda”, acrescenta.
Unidade contra as duas direitas
Para Genoino, os três principais concorrentes de Edinho, Rui Falcão, Walter Pomar e Romênio Pereira, representam uma política de mudança e têm posição clara contra a presença de partidos de direita no governo. Ele elogia a carta conjunta divulgada pelos candidatos, que critica a aliança com legendas do centrão e pede uma maior coerência ideológica.
“A extrema direita com a direita neoliberal estão construindo um programa estratégico, uma espécie de ‘pinochezaço’ [reformas econômicas radicais com corte de direitos sociais, como as do regime ditatorial de Augusto Pinochet, no Chile] aqui no Brasil. Eles buscam, com a mídia, o mercado, o agronegócio e centrão, conseguir esse caminho”, diz.
Segundo ele, cabe ao PT se contrapor com mobilização popular, agenda redistributiva e alianças à esquerda. “É necessário trabalharmos com um pé no palácio e outro na rua”, sugere.
O petista compara a derrubada no Congresso do aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), proposto pelo governo, ao golpe de 2016, que depôs a ex-presidente Dilma Rousseff (PT). “Fazem uma articulação incensada pela grande mídia, pelo mercado financeiro, pelas bets, pelos bilionários, pelos bancos, para inviabilizar o governo Lula. Inviabilizar o governo Lula é quebrar, eliminar os investimentos em saúde, educação, reforma agrária, salário mínimo, aposentadoria, etc.”, define.
Luta por justiça tributária
O ex-deputado avalia que o governo está iniciando uma vitória no debate sobre a taxação dos mais ricos, mas que essa é apenas uma das batalhas. Para ele, a luta tributária precisa estar conectada diretamente às demandas populares, como saúde, educação, reforma agrária e geração de empregos. “A participação política tem que estar vinculada aos nossos programas sociais. Tem que haver esse link”, afirma.
Genoino também alerta para os riscos de se depender exclusivamente do Congresso ou do Judiciário e reforça a importância das mobilizações populares, como o ato convocado para o próximo dia 10 de julho, sob o mote “centrão, inimigo do povo”, que reivindica a tributação de bilionários e o fim da escala 6×1.
“Eles querem criar uma democracia tutelada, limitada. Essa é a tradição da classe dominante brasileira. Portanto, é muito importante essa sinalização de Lula de cobrar impostos dos mais ricos. Isso indica a necessidade de assumirmos a bandeira da luta pela justiça tributária, pela igualdade social, pela cidadania”, defende Genoino.
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