‘Não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da República’, diz Lula no Congresso da UNE

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) participou, nesta quinta-feira (17), da plenária do 60º Congresso da União Nacional dos Estudantes (Conune), realizado na Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia (GO). Vestido de vermelho e com o boné da UNE, o presidente discursou durante meia hora diante de cerca de 10 mil estudantes e aproveitou o espaço para reforçar a defesa da soberania nacional e criticar a postura dos Estados Unidos em relação ao Brasil.

“Temos duzentos e um anos de relações diplomáticas com os Estados Unidos”, afirmou. “E temos um déficit comercial de serviços e de comércio de US$ 410 bilhões em 15 anos. Portanto, os Estados Unidos são muito superavitários com o Brasil.” Segundo Lula, esse histórico reforça a posição brasileira de não aceitar pressões externas: “Nós não aceitamos a ideia do presidente [dos EUA] mandar uma carta via e-mail dizendo que, se não libertar o Bolsonaro, vai taxar em 50%”.

Em referência direta ao presidente Donald Trump, Lula foi enfático: “Nós não aceitamos que ninguém, de nenhum país fora do Brasil, se meta nos nossos problemas internos. É a primeira vez na história desse país que temos três generais de quatro estrelas presos. E não estão presos à toa. Estão presos porque tentaram dar um golpe. E vão ser julgados, não porque o Lula quer. Vão ser julgados com base nos autos do processo”.

O presidente comparou a situação brasileira à tentativa de golpe nos Estados Unidos, em 2021: “Se o Trump tivesse tentado aqui no Brasil o que fez no Capitólio, poderia também ser preso”.

Lula seguiu em tom de enfrentamento. “Não é um gringo que vai dar ordem a este presidente da República. Eu sei a quem eu devo respeitar neste país. O nome dessa pessoa só tem quatro letras: chama-se povo brasileiro.”

Além de Lula, também participaram do ato a primeira-dama Janja Lula da Silva e os ministros Alexandre Padilha (Saúde), Camilo Santana (Educação), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação), Margareth Menezes (Cultura) e Marcio Macedo (Secretaria-Geral), além de representantes de movimentos populares e centrais sindicais.

“Enquanto eu for presidente, não tenha medo de reivindicar, de cobrar”

Diante da juventude, o presidente convocou os estudantes a se organizarem e pensarem estrategicamente os rumos do país. “A esquerda toda que está aqui não tem mais que 140 deputados no Congresso Nacional, de um total de 513. E no Senado, temos só doze. Para aprovar qualquer coisa, precisamos de maioria”, lembrou.

“É preciso transformar os nossos sonhos em ação”, defendeu Lula. “Como é que o PT é capaz de eleger um presidente da República cinco vezes e só faz setenta deputados federais? Será que o povo está nos compreendendo? Por que o povo não vota nos deputados e senadores de esquerda? Esse é um desafio para a juventude pensar”, disse.

Lula também alertou para o papel das plataformas digitais nas eleições e pediu atenção às fake news. “A juventude é muito vulnerável à máquina das empresas de tecnologia. É importante que aprenda a distinguir a mentira da verdade, senão vamos fazer uma eleição com base numa guerra de inteligência artificial”.

Em oposição a esse cenário, o presidente defendeu outro projeto de sociedade: “Não quero uma sociedade de algoritmos, quero uma sociedade de humanistas. Construir companheiros de verdade, de carne e osso”, pontuou. E reforçou: “Reivindiquem enquanto é tempo de reivindicar”.

O presidente também propôs que a UNE crie um projeto voltado para as periferias. A ideia, segundo ele, é aproximar os estudantes dos jovens que não tiveram oportunidade de estudar. “Mostrem que vocês não são uma coisa alheia a eles”, pediu.

“Precisamos trabalhar um pouco mais. O debate tem que sair da universidade e ir para a rua. Precisamos politizar a sociedade brasileira para que ela não seja enganada pelos mentirosos”, completou.

Lula sanciona projeto que destina recursos do pré-sal para assistência estudantil

Durante a plenária, o presidente sancionou o Projeto de Lei (PL) 3.118, de 2024, que amplia o uso dos recursos do Fundo Social – provenientes da exploração de petróleo e gás natural – para financiar políticas de assistência estudantil em instituições públicas.

De autoria do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), o texto altera a Lei nº 12.858, de 2013, para incluir entre as prioridades do Fundo Social as ações voltadas à permanência de estudantes de baixa renda na educação superior. A proposta também modifica a Lei nº 14.914, de 2024, reforçando o apoio a políticas de ações afirmativas.

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