
Celebrado em 8 de agosto, o Dia Nacional do Combate ao Colesterol chama atenção para um dos principais fatores de risco cardiovascular: o excesso de colesterol no sangue. Embora a alimentação seja frequentemente apontada como a principal causa, a ciência já reconhece que os níveis de colesterol também podem ser influenciados por fatores genéticos, hormonais, metabólicos e inflamatórios, o que exige uma avaliação clínica mais abrangente.
Segundo a nutróloga Suzana Viana, muitas pessoas mantêm hábitos alimentares saudáveis e, mesmo assim, apresentam alterações importantes nos exames. “É comum vermos pacientes com dieta equilibrada e prática de atividade física, mas com colesterol alto por causa de disfunções hormonais ou inflamação silenciosa. A nutrologia ajuda a identificar essas causas menos evidentes e propor um tratamento mais efetivo e individualizado”, explica.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), cerca de 40% da população adulta no Brasil tem níveis elevados de colesterol. Esse desequilíbrio favorece o desenvolvimento de doenças como aterosclerose, infarto, AVC e esteatose hepática. O grande desafio é que o colesterol alto geralmente não provoca sintomas perceptíveis, o que pode atrasar o diagnóstico e aumentar os riscos à saúde cardiovascular.
O colesterol é um tipo de gordura essencial ao funcionamento do organismo. Ele participa da produção de hormônios sexuais, vitamina D, ácidos biliares (importantes para a digestão) e da estrutura das membranas celulares. O problema surge quando há excesso dessa substância, especialmente do tipo LDL, que pode se depositar na parede dos vasos sanguíneos e prejudicar a circulação.
Existem diferentes tipos de colesterol no organismo:
- HDL (lipoproteína de alta densidade): é considerado o colesterol “bom”, pois ajuda a remover o excesso de colesterol das artérias.
- LDL (lipoproteína de baixa densidade): chamado de “colesterol ruim”, quando elevado, favorece a formação de placas de gordura nos vasos sanguíneos.
- VLDL (lipoproteína de muito baixa densidade): também considerado prejudicial, está associado ao transporte de triglicerídeos e ao aumento do risco cardiovascular.
O colesterol total é a soma de todos esses componentes presentes no sangue.
Embora a alimentação seja um fator importante, outros aspectos também interferem diretamente nos níveis de colesterol. Entre eles, a predisposição genética. De acordo com a nutróloga, a hipercolesterolemia familiar (HF) é uma das formas mais comuns de colesterol alto de origem genética, e muitas vezes passa despercebida. “Trata-se de uma condição hereditária que afeta a capacidade do fígado de remover o colesterol LDL da circulação. Mesmo com uma alimentação equilibrada, pessoas com HF podem apresentar níveis muito altos de colesterol desde a infância”, explica.
Estima-se que 1 em cada 250 pessoas no mundo tenha essa mutação genética, mas a maior parte dos casos ainda não é diagnosticada de forma precoce. A condição é autossômica dominante, ou seja, basta um dos pais ter o gene alterado para que exista risco de transmissão aos filhos. “Por isso, quando um paciente recebe o diagnóstico de hipercolesterolemia familiar, é fundamental que toda a família passe por avaliação. O rastreio genético e os exames laboratoriais podem evitar complicações graves em jovens e adultos aparentemente saudáveis”, alerta Suzana.
Além da genética, outras causas comuns de colesterol alto incluem obesidade e excesso de gordura corporal; sedentarismo; tabagismo; distúrbios da tireoide, especialmente o hipotireoidismo; desequilíbrios hormonais, como os que ocorrem na menopausa, com a queda do estrogênio; estresse crônico e cortisol elevado, pois favorecem inflamação e desregulação metabólica, e inflamação silenciosa, um dos fatores mais subestimados, que pode impactar diretamente a função hepática e a produção de lipoproteínas.
Quando presente em excesso, o colesterol se acumula nas paredes das artérias, provocando o estreitamento dos vasos e dificultando a passagem do sangue. Esse processo, chamado de aterosclerose, pode levar a complicações graves, como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), angina e danos à circulação em órgãos como os rins, a retina e os membros inferiores.
Como diagnosticar
O colesterol alto é uma condição silenciosa. Por isso, o diagnóstico deve ser feito por meio de exames laboratoriais que avaliam o perfil lipídico completo (colesterol total, LDL, HDL, VLDL e triglicerídeos).
Cerca de 70% do colesterol é produzido pelo próprio organismo, enquanto 30% vem da alimentação. Por isso, mudar apenas a dieta muitas vezes não é suficiente. A abordagem precisa considerar o metabolismo de forma integrada, com foco na redução da inflamação, no equilíbrio hormonal e na saúde intestinal.
“Não basta apenas cortar gordura da dieta. O foco deve ser o equilíbrio do metabolismo como um todo, considerando sono, estresse, atividade física e metabólica, composição corporal e funcionamento intestinal. Cada paciente precisa de um plano individual”, orienta Suzana.
Entre as orientações práticas para o controle do colesterol, a nutróloga destaca:
- Priorizar o consumo de fibras solúveis, como aveia, leguminosas e frutas.
- Incluir gorduras boas, como azeite de oliva, abacate, castanhas e peixes gordurosos, que aumentam o HDL e reduzem a inflamação.
- Reduzir alimentos ultraprocessados e ricos em gordura saturada, como embutidos, fast food, frituras e biscoitos recheados.
- Evitar o excesso de açúcar e carboidratos refinados, que aumentam os triglicerídeos e favorecem o acúmulo de gordura no fígado.
- Praticar atividade física regularmente, especialmente exercícios aeróbicos, que ajudam a equilibrar o perfil lipídico.
- Não fumar e reduzir o estresse crônico, fatores que impactam diretamente na saúde cardiovascular.
- Acompanhar com exames hormonais e marcadores inflamatórios, como TSH, estradiol, cortisol e proteína C reativa ultrassensível.
“A nutrologia atua de forma integrada, utilizando exames para identificar as condições associadas ao colesterol elevado e propondo estratégias baseadas em evidências científicas. Com essa abordagem, é possível não apenas controlar os níveis de colesterol, mas prevenir doenças graves e preservar a saúde metabólica”, conclui a médica.
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