A primeira edição da Mostra Urgente de Artes Cênicas — o futuro é agora promete apresentar um panorama contemporâneo da produção de teatro e dança no Rio Grande do Sul, marcado pela diversidade. De 11 a 31 de agosto, a Zona Cultural apresenta oito montagens, selecionadas entre mais de 40 produções inscritas.
A diretora Patrícia Fagundes, que é coordenadora da mostra, explica que a mostra reflete sobre os atuais tempos de ruptura e os caminhos para um futuro de incertezas. “A arte pode assumir um papel fundamental, pois contribui neste exercício de imaginação de outros tempos e realidades possíveis, abre janelas, inventa o mundo.”

A abertura da mostra, às 18h desta segunda-feira (11), será com a aula aberta Práticas Cênicas e Relações Étnico-Raciais, ministrada pela atriz Celina Alcântara, com entrada franca. O encerramento, no domingo, dia 31 de agosto, terá a exibição do espetáculo convidado A Menina dos Olhos d´Água , uma atração para as crianças.
Toda a programação será realizada na Zona Cultural (Av. Alberto Bins, 900 — bairro Floresta, Porto Alegre), que promove o evento. A venda de ingressos e as inscrições para as demais atividades estão disponíveis pela internet (https://linktr.ee/zonacultural). As sessões com tradução simultânea em libras serão gratuitas para pessoas surdas.
Entre as mais de 40 produções inscritas para a seleção, oito montagens foram escolhidas: Não Recomendado (14/08, quinta-feira, às 20h — com tradução em libras), Muita Água (16/08, sábado, às 20h), Riso de Mãe é Coisa Séria (17/08, domingo, às 20h — com tradução em libras), Menina de Tranças e Cabelos Brancos (21/08, quinta-feira, às 20h), Você dorme quando cai a noite? (23/08, sábado, às 20h), Às Vezes Eu Kahlo (24/08, domingo, às 20h), Corpocidade (28/08, quinta-feira, às 20h — com tradução em libras) e Meretrizes (30/08, sábado, às 20h).

O projeto tem financiamento da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) por meio do Edital SEDAC nº 26/2024 PNAB RS — Artes Cênicas.
Confira entrevista com a coordenadora da mostra, Patrícia Fagundes.
Brasil de Fato RS: Por que o nome Mostra Urgente de Artes Cênicas – o futuro é agora?
Patrícia Fagundes: Porque há uma urgência no nosso tempo histórico, não há? Estamos vivendo um momento de ruptura, de crise, de fim. Nosso modelo de sociedade, de vida, de mundo se revela insustentável, entre guerras, violência, desigualdade, crise climática, adoecimentos, desespero geral (bom mercado para coachs que vendem soluções infalíveis). E, neste momento turbulento, incerto, nebuloso, neste presente sombrio, estamos pensando e debatendo com frequência o futuro, a memória, como modo de tornar possível a vida.
É necessário imaginar hoje os futuros que desejamos, em conexão com nossa memória, sempre. São tempos revoltos, que se suspendem. Portanto, há uma oportunidade de recomeçar, de fundar outras histórias. E, aqui, a arte pode assumir um papel fundamental, pois contribui neste exercício de imaginação de outros tempos e realidades possíveis, abre janelas, inventa o mundo. E vamos hoje, agora, abrindo caminhos pra estes futuros renovados que precisamos.
Você diria que os assuntos mais urgentes atualmente no mundo estão sendo abordados nos palcos gaúchos?
Penso que sim, ainda que as urgências se concretizem de modos diferentes em diferentes partes do mundo. Acho muito importante este posicionamento, localização, porque é um contraponto à lógica da globalização e da própria colonialidade, que define modelos “universais” a partir de centros de poder do hemisfério norte.
Essa é uma pauta urgente também: a crítica, a subversão, a luta contra a colonialidade. A cena gaúcha tem produções lindas e afiadas que estão pensando nosso tempo e provocando essas fissuras que abrem janelas de imaginação.
Há várias atividades paralelas, como oficinas e aulas abertas, acessíveis ao público em geral. O objetivo é abrir as portas da Zona Cultural para uma imersão nas artes cênicas gaúchas?
A Zona Cultural tem esse desejo, esse propósito de ser um lugar de convergência de artistas, de ideias, de criações, de fazeres da cena. Ela já é uma imersão cênica, de muitas formas. E a cena se faz de muitos fazeres: ensaios, espetáculos, aulas, produção, técnicas, poéticas, pensamentos, encontros, reuniões, gestão, festa.
A mostra é tempo de encontros, de subversões, de criação, de fresta, de celebração. E, pra isso, a Zona existe com muita luta e insistência: espaço de encontro, invenção, trincheira, pensamento artístico, transformação, celebração das artes cênicas.
A mostra vai exibir oito espetáculos selecionados e uma montagem convidada. Se o orçamento permitisse, seria possível ampliar a programação para retratar ainda mais essa diversidade?
Com certeza! Tivemos muitos inscritos, comprovando a demanda de eventos como esse que abra espaço e tempo para a intensa produção cênica gaúcha. Eu não participei da curadoria, mas a lista de inscritos revela tanta produção consistente que não entrou porque as vagas eram limitadas e o orçamento bem modesto.
Estamos verificando possibilidades de conseguir apoios para apresentações extras, ainda esse ano. E nosso desejo é que a mostra tenha outras edições, ampliadas e reforçadas. Apoios são fundamentais para viabilizar este sonho compartilhado.
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