
Centro de tecnologia quer unir IA brasileira para criar robôs mais humanos e empáticos
Pesquisadores do Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, de Campinas (SP), querem unir o uso de um supercomputador e o Carcará, futura Inteligência Artificial (IA) brasileira, no desenvolvimento de robôs mais humanos e empáticos.
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O pesquisador Josué Ramos, que atua há 43 anos na área de robótica, destaca como as IAs generativas já disponíveis, conhecidas como LLMs (na sigla em inglês de “large language models”), ampliaram possibilidades e os avanços na área.
“A emergência das LLMs trouxe um salto no conhecimento. Agora temos sistemas com emergência de conhecimento, capazes de interações muito mais naturais”, explica.
Os pesquisadores têm estudado a aplicação de modelos de LLMs já existentes em dois robôs adquiridos pelo CTI Renato Archer, criando mecanismos para, além de incorporar a tecnologia, fazer com que as máquinas, de fato, interajam de forma autônoma com humanos.
Aceitos socialmente e emocionalmente
Sophia, uma robô usada em pesquisas no CTI Renato Archer, em Campinas (SP), em que pesquisadores incorporaram inteligência artificial e trabalham na melhoria das interações entre humanos e máquinas
Fernando Evans/g1
Ou seja, o objetivo é criar robôs que não apenas executem tarefas, mas que sejam aceitos socialmente e emocionalmente pelas pessoas.
“Vai desde como o robô vai se movimentar para indicar que ele está alegre ou triste, como vai mostrar que está te apoiando. Não é só na fala, é no sentimento, na forma como ele olha. Você tem que captar o que o seu usuário, o ser humano, está sentindo. Isso é um desafio grande”, explica Marcos Cruz.
Esses desafios envolvem pesquisas e estudos de comportamento de diferentes áreas do conhecimento, que ultrapassam os limites da ciência da computação, mecânica e eletrônica.
Os pesquisadores lidam com questões que vão de legislação e linguística, a artes, sociologia, psicologia e anatomia.
“As pessoas humanizam os robôs. Há experimentos que mostram que em interações com um avatar (virtual) e o robô, elas perdoam mais os erros feitos por um robô físico do que um robô na tela. Essa humanização é um fenômeno que é muito estudado na área de interação”, explica Josué.
No trabalho são considerados fatores sobre como os robôs se comunicam, seja do volume aos gestos e, inclusive, proximidade no contato ou no acompanhamento de seres humanos. E tudo isso alinhando o uso de Inteligência Artificial.
O pesquisador Josué Ramos, que atua há 43 anos na área de robótica no CTI Renato Archer, em Campinas (SP), fala sobre as múltiplas ciências envolvidas no estudo da interação entre humanos e máquinas
Fernando Evans/g1
Robô recepcionista
Um dos projetos em desenvolvimento no CTI Renato Archer envolve um robô recepcionista, que possa interagir com os visitantes e navegar pelo centro de forma autônoma, guiando as pessoas até os seus destinos.
Para isso, é preciso mais do que a incorporação de linguagem aos robôs: é necessário entendimento do ambiente, localização, sensores e interação social.
“A IA é só um aspecto. O robô precisa saber onde está, como se mover, como interagir com humanos. Tudo isso é parte do desafio”, destaca Cruz.
E a IA brasileira?
O pesquisador Marcos Cruz destaca que a inteligência artificial é apenas uma parte das tecnologias envolvidas no trabalho com robôs no CTI Renato Archer, em Campinas (SP)
Fernando Evans/g1
Para operar um sistema que possa fornecer respostas mais rápidas e precisas, os pesquisadores explicam que é necessário um computador que possa processar bilhões de parâmetros.
Por isso esperam pelo uso do Santos Dumont, supercomputador do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC).
O CTI Renato Archer vai incorporar um robô à Inteligência Artificial brasileira de grande porte, o Carcará, em desenvolvimento no LNCC, que será usada pela equipe para treinar modelos específicos para robótica, com foco em aplicações educacionais, sociais e industriais.
“Nessas LLMs, que são essas redes neurais que falam com a gente como se fosse uma pessoa normal, notebooks comuns têm a capacidade de processar 8 bilhões de parâmetros. Um servidor aqui do CTI vai ter uma capacidade, no máximo, de 27 bilhões de parâmetros. E o que isso muda? Muda o tempo de resposta e a qualidade de resposta”, diz Douglas Alexandre de Souza, engenheiro de controle e automação.
Douglas Alexandre de Souza, engenheiro de controle e automação na área de robótica do CTI Renato Archer, em Campinas (SP)
Fernando Evans/g1
Segundo os pesquisadores, quanto melhor a LLM, e maior a quantidade de parâmetros envolvidos, as respostas são melhores. Para efeito de comparação, Douglas cita que o ChatGPT tem trilhões de parâmetros. “Isso não dá para ter em um computador normal”, enfatiza.
Ou seja, ter acesso a uma LLM com mais parâmetros (Carcará) e um supercomputador (Santos Dumont) permitirá um domínio maior da tecnologia pela equipe, e a possibilidade de um treinamento mais eficaz e preciso dos robôs.
“O que o Carcará pode trazer para gente? A nossa experiência tem mostrado que se você tem uma IA pequena, ela é sujeita a alucinações. As melhores respostas vêm com a IA grande. Se você tem grande capacidade de processamento, significa que você vai ter respostas melhores. Tem determinados treinamentos que você leva dias para fazer. A vinda de um computador de alto desempenho significa que dias podem virar horas”, completa Josué.
O robô Nao usado pela equipe do CTI Renato Archer, em Campinas (SP), nos trabalhos envolvendo uso do inteligência artificial
Fernando Evans/g1
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