Doze dias de terror: sequestro da Rua das Margaridas completa 35 anos


Memória MG: relembre 12 dias de sequestro na Rua das Margaridas, em Juiz de Fora
Nesta segunda-feira (25), completam-se 35 anos de uma verdadeira cena de filme que aconteceu na Avenida Barão do Rio Branco, no Centro de Juiz de Fora: cinco fugitivos da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, chegaram à cidade em um carro-forte com quatro militares feitos reféns.
O sequestro da Rua das Margaridas, como ficou conhecido, foi um dos mais longos da história de Minas Gerais e, até hoje, permanece na memória de quem mora no município e acompanhou os 12 dias de cárcere.
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Veículos de comunicação e jornalistas de todo o país desembarcaram na cidade mineira para acompanhar o crime. Em meio aos muitos profissionais, Andréia Pereira, que na época era estudante de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e estagiária em uma rádio, acompanhou de perto o acontecido.
“Eu me lembro perfeitamente do carro-forte estacionado na Avenida Rio Branco, em frente ao Parque Halfeld. Consegui colocar o microfone dentro do comunicador, que era um buraquinho no carro-forte, e conversei com os sequestradores. Nunca me esqueço do momento em que um policial se aproximou e disse que minha mãe estava em pânico, no meio da confusão atrás de mim, enquanto eu continuava ali, com o microfone no carro-forte, conversando com eles”, relembrou a jornalista.
A cena descrita por Andréia ocorreu em um sábado de manhã, durante as comemorações do Dia do Soldado, celebrado em 25 de agosto de 1990.
“A cidade parou. Formou-se uma multidão no Centro de Juiz de Fora e, nos dias seguintes, foram 24 horas de cobertura. Cheguei a ficar 12, 13 horas no ar, e só se falava do sequestro”, contou.
Fugitivos de Contagem chegam a Juiz de Fora em carro-forte
Reprodução/TV Integração
Apesar do caso policial, a jornalista conta que, profissionalmente, a experiência foi enriquecedora e extremamente valiosa para ela.
“Não tem como sair sem levar os valores de uma experiência como esta. Pessoalmente, minha família ficava muito preocupada, mas profissionalmente foi algo definidor. Tive a honra de conviver com jornalistas renomados de todo o país. Ainda estudante, uma foca, ao lado de uma tropa de elite de profissionais”, finalizou.
Outra moradora de Juiz de Fora que guarda na memória o sequestro da Rua das Margaridas é a professora de história, hoje aposentada, Alcione Altomar Scanapieco Saenz.
“Na época, eu trabalhava em uma escola quando um colega chegou comentando o que estava acontecendo. Todos ficaram muito chocados, pois nunca havia acontecido algo semelhante em nossa cidade”, lembrou.
Durante todos os dias do sequestro, o cenário na cidade foi de tensão. “Evitava sair, a não ser para os compromissos de trabalho. Fiquei bastante angustiada com a demora daquela situação, preocupada com o desfecho que isso teria. Graças a Deus, as negociações chegaram a uma solução pacífica. Os bandidos se renderam e o coronel foi libertado”, concluiu.
12 dias de sequestro
Sítio invadido pelo grupo na Rua das Margaridas, Bairro Novo Horizonte, em Juiz de Fora
Reprodução/TV Integração
Por doze dias, o Brasil parou para acompanhar o sequestro da Rua das Margaridas. No dia 24 de agosto de 1990, cinco presos renderam guardas e fizeram nove reféns na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem.
Após negociações, eles deixaram a unidade prisional em um carro-forte com quatro policiais militares – um deles foi morto – e chegaram a Juiz de Fora no dia 25 de agosto daquele ano.
O grupo estacionou na Avenida Barão do Rio Branco e exigiu que a polícia entregasse armas e um carro.
De lá, seguiram para o Bairro Grajaú e, próximo à Igreja Nossa Senhora do Líbano, receberam o armamento e o veículo. Depois, seguiram em direção à BR-040 com o coronel Edgar Sores.
Pouco depois, renderam uma família em um posto de gasolina e retornaram à cidade, onde invadiram um sítio na Rua das Margaridas, no Bairro Novo Horizonte.
Invasão
No décimo dia de sequestro, três fugitivos se entregam à polícia em Juiz de Fora
Reprodução/TV Integração
No sítio, fizeram mais reféns, que foram libertados gradualmente. Apenas o coronel Edgar Soares permaneceu com os criminosos, e uma longa e arrastada negociação colocou Juiz de Fora em destaque em todo o país.
No décimo dia, o grupo tentou fugir do sítio e trocou tiros com a polícia. Três deles ficaram feridos e se entregaram. No 11º dia de sequestro, os dois fugitivos deixaram a casa e encontraram-se com a comissão de negociação formada.
Um dia depois, houve a liberação do coronel, por volta das 8h30, e a prisão dos outros dois criminosos.
‘A cada momento que conto a história, ela fica mais suave para mim’
Coronel Edgar Soares foi feito refém por 12 dias no famoso sequestro da Rua das Margaridas, em Juiz de Fora
TV Integração/Reprodução
Em entrevista ao Globo Repórter, em 2020, o coronel Edgar Soares comentou o caso e disse que, com o passar dos anos, a agonia vivida foi ficando mais suave.
“Depois do sequestro, estive com uma psicóloga, e ela me apresentou o seguinte: se eu não contasse a minha história, ficaria preso nela. Comecei a ter muitos pesadelos e, com essa observação dela, comecei a contar. A cada vez que conto a história, ela fica mais suave para mim”, disse.
Aos 80 anos, o policial morreu em Belo Horizonte, em 2024, após passar duas semanas internado na UTI de um hospital da capital mineira, com quadro de insuficiência cardíaca e pulmonar. Ele deixou quatro filhos e a esposa.
RELEMBRE: Morre Edgar Soares, coronel da PM refém por 12 dias no famoso sequestro da Rua das Margaridas, em Juiz de Fora, na década de 90
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