Por uma agricultura sensível à qualidade nutricional dos alimentos

Em meio aos desafios globais da segurança alimentar, da saúde pública e da sustentabilidade, emerge a necessidade de repensar a lógica produtiva da agricultura moderna. A busca por produtividade a qualquer custo, muitas vezes medida em toneladas por hectare, tem desconsiderado um aspecto vital: a qualidade nutricional dos alimentos que chegam à mesa da população. Mais do que alimentar, é preciso nutrir. E isso exige uma agricultura que seja sensível à composição mineral e biológica dos alimentos, ao equilíbrio ecológico dos sistemas produtivos e ao encurtamento das distâncias entre quem produz e quem consome.

A qualidade nutricional dos alimentos está intrinsecamente ligada à qualidade do solo, à diversidade das espécies cultivadas e ao manejo adotado. Solos pobres, exauridos ou desequilibrados resultam em plantas fragilizadas, com menor teor de micronutrientes, fitoquímicos e compostos bioativos. Por outro lado, solos ricos em vida e minerais disponíveis são capazes de nutrir verdadeiramente as culturas e, por consequência, os seres humanos. Nesse contexto, ganha relevância o uso de remineralizadores de solo, especialmente quando combinados com práticas da agricultura orgânica.

Os remineralizadores atuam como fontes naturais de macro e micronutrientes, liberados lentamente e de forma equilibrada, promovendo a reestruturação da fertilidade do solo e estimulando a atividade microbiana. Diferente dos fertilizantes solúveis e sintéticos, que promovem picos momentâneos de nutrição e, muitas vezes, desregulam o sistema biológico do solo, os pós de rocha ampliam a complexidade funcional do agroecossistema, fortalecendo as defesas naturais das plantas e favorecendo a presença de elementos essenciais como selênio, silício, boro e zinco, elementos com reconhecido papel na saúde humana, mas frequentemente ausentes em produtos da agricultura convencional.

Ao associar remineralização ao manejo orgânico, cria-se um caminho para reconstruir o elo perdido entre saúde do solo, saúde das plantas e saúde humana. Alimentos produzidos com base nessa abordagem tendem a apresentar maior densidade nutricional, mais sabor e maior resiliência pós-colheita, contribuindo também para a autonomia dos agricultores e para a soberania alimentar das comunidades.

Contudo, para que tais alimentos cheguem às pessoas que mais precisam, especialmente em territórios urbanos vulneráveis, é fundamental o fortalecimento de políticas públicas voltadas aos circuitos curtos de comercialização. Feiras orgânicas, cestas agroecológicas, compras institucionais e mercados de base comunitária são instrumentos estratégicos para reaproximar produtores e consumidores, encurtando o trajeto físico e simbólico dos alimentos. Nessas redes, o alimento deixa de ser mercadoria e retoma seu lugar como bem comum, portador de identidade territorial, cultura alimentar e valor nutricional real.

A promoção de circuitos curtos também permite a valorização de pequenas e médias propriedades, incentivando práticas regenerativas e ecológicas que dificilmente têm espaço nas cadeias de abastecimento dominadas por intermediários e grandes corporações. Trata-se de uma escolha política e ética: fortalecer os sistemas alimentares locais para garantir alimentos saudáveis, produzidos com respeito ao ambiente e às pessoas.

Uma agricultura verdadeiramente sensível à qualidade nutricional dos alimentos não pode prescindir da diversidade, da ecologia e da justiça social. É preciso promover o resgate da fertilidade do solo pela via mineral e biológica, estimular o consumo consciente e criar políticas que viabilizem economicamente os circuitos curtos. Trata-se de uma transformação silenciosa, porém profunda, que devolve ao alimento o seu papel originário: ser fonte de vida, saúde e conexão entre a terra e a sociedade.

*Pesquisador Científico do Instituto Agronômico de Campinas.

**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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